Fanzines mantêm tradição da literatura impressa


Publicações independentes circulam em grupos restritos, mas que mantém viva essa cultura em Curitiba

 ISABEL VICTORIO

Revistas underground, feitas de fã para fã, preparadas artesanalmente e com custo quase zero. A fabricação e distribuição dos fanzines, publicações impressas independentes com conteúdo reflexivo ou noticioso misturado ao artístico, agrupa um séquito de aficionados em todo o mundo. Com tiragens pequenas e sem visar o lucro, as publicações são recebidas por correio ou por intermédio de amigos. E mantêm viva, entre um clube quase secreto, a tradição da literatura impressa, mesmo com evoluções trazidas pela internet.

A chegada das novas mídias teve influência em algumas características dos fanzines, como a necessidade da impressão, segundo o professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Henrique Magalhães. “O impacto positivo é que agora se pode fazer uma publicação praticamente sem custo e com possível grande difusão [chamada de ezine]. O meio digital está possibilitando outras formas de comunicação, que precisam ainda de melhor definição”, diz o professor, que dirige um grupo de pesquisas sobre quadrinhos na universidade.

Diretor da iniciativa Resistência, que incentiva a produção de fanzines, o curitibano Lucas Mota, de 24 anos, confunde a noção de dominação do online sobre o impresso, e vice-versa, com seus projetos. Leitor de longa data e fazineiro há três anos, começou a publicar porque queria se comunicar de forma analógica e não apenas digital com o público da internet, com quem já tinha contato por ser blogueiro. “Hoje, eu atuo das duas formas. Existem os fanzines que produzo exclusivamente pra um público underground, mas também sou bem ativo na internet, para uma galera que prefere acompanhar tudo digitalmente”, conta.

Fãs como combustível para os fanzines

Os fanzines chegaram ao Brasil na década de 60, importando o formato surgido nos Estados Unidos, e tiveram o auge nos anos 80, com a popularização das fotocopiadoras. O incentivo para a perpetuação da cultura de fanzines por tanto tempo vem dos fãs, que são pessoas aficionadas pelo tema que as revistas abordam: “É inútil vender ou distribuir o fanzine de modo aleatório. Ele requer interação e só o público segmentado está disposto a participar dele, seja apoiando com sua compra, seja por meio de colaborações”, explica Magalhães.

Não há incentivos governamentais para a realização das publicações. Isso, porque “o fanzine não se enquadra nesse campo, ele é por princípio independente e incontrolável”, de acordo com o professor da UFPB. Mota concorda com essa ideia de independência e afirma que eventos como o Fanzinando, organizado pelo projeto Resistência, servem como forma de apoio aos autores. “Além disso, estamos preparando a fanzinoteca, recolhendo um acervo nacional de fanzines de todas as épocas possíveis para ter arquivado à disposição de todos na Biblioteca Pública do Paraná”, adianta ele. Mota edita o Zine Resistência, publicação de conteúdo ideológico elaborado pela organização, disponível online.

Para quem pensa em começar, a dica é se misturar aos fanzineiros. “É preciso ter algum conhecimento sobre o tema enfocado, bem como um círculo de amizade ou de aficionados que compartilharão o fanzine”, afirma Magalhães. “Basta ter vontade e um pouco de grana para fazer um”, resume o professor. Lucas Mota explica que Curitiba está em um meio-termo em relação à quantidade de pessoas que acompanham esse tipo de publicação. “A parte mais legal dos fanzines em qualquer lugar é que sempre existe espaço pra se começar um, seja em um local onde o movimento é grande ou até mesmo em uma cidade do interior onde ninguém conhece nada a respeito”.

A primeira edição do Fanzinando foi realizada no ano passado

A primeira edição do Fanzinando foi realizada no ano passado

Outra forma de se tornar autor

A ideia de se produzir conteúdo gratuito, impresso e artesanal, características dos fanzines, soa familiar quando comparada a uma iniciativa de incentivo a novos escritores, nascida em Curitiba, em novembro do último ano.  A Liga de Autores Free é um projeto que edita, imprime e distribui, gratuitamente, livros de autores que não encontram espaço em editoras tradicionais. A proposta começou quando dois dos quatro idealizadores do projeto quiseram publicar uma obra, mas não tinham os recursos necessários.

O título “Provérbios de Cadeia” foi o primeiro a sair do forno, depois vieram outros dois e a revista “O Verbo”. A tatuadora Ales de Lara, fundadora e ilustradora da Liga, explica que quem quiser publicar um livro deve enviar um e-mail à editora com o material produzido, que será avaliado por uma banca. “O interessado não tem necessidade de ser um profissional, pois, tendo qualidade, mesmo que amador, nós o ajudamos a se desenvolver”, diz. Critérios como criatividade e eloquência são avaliados e têm peso maior que a gramática e ortografia, pois a equipe também conta com um revisor. Se o escritor for julgado apto, ganha uma coluna semanal na página do Facebook da editora, o que serve como um teste, e pode vir a publicar seu livro.

Sem depender de patrocinadores ou doações, são os coordenadores do projeto que custeiam a publicação. Os livros devem conter cerca de 30 folhas e têm a possibilidade de serem ilustrados por artistas que fazem parte do projeto. São impressas 100 cópias, que podem ter formato de brochura, serem grampeadas ou terem as páginas unidas com laço de fita. Para distribuir, a Liga prepara um evento temático de lançamento. “O evento acontece sempre em um local público, onde pessoas convidadas (ou não) podem pegar seus exemplares e, quando o autor é daqui, pode autografá-los também”, conta Ales. O autor mantém um contrato de dois anos com a editora e, só após desse período, tem direito a republicá-lo de forma paga.

A tatuadora também tem planos de se lançar como escritora. Sua coluna “Já Era Uma Vez”, no ar na rede social da editora, pode virar um livro. Entre suas inspirações literárias estão Neil Gaiman e Edgar Allan Poe, assim como livros do universo infantil. “Como sou ilustradora, também busco minhas referências nas obras de arte e outros tipos de artistas que não escritores”, comenta Ales, cuja coluna é ilustrada por outro artistas da Liga. “Virou até piada entre nós: ‘a ilustradora da Liga tem um ilustrador’”, diz, referindo-se ao espírito colaborador da iniciativa.

Voto Livre abre espaço para que cidadãos proponham projetos de lei

Baseado em tópicos da Constituição Brasileira, o projeto está propondo a votação da Lei da Bicicleta em Curitiba

Ana Clara Tonocchi

Poucas pessoas sabem que a Constituição Brasileira permite que o povo proponha seus próprios projetos de lei no âmbito municipal das Câmaras dos Vereadores. Tal direito é garantido em todo o Brasil, mas deve ser votado por município. Em Curitiba, dois amigos sentiram a necessidade de informar isso ao cidadão, avaliando a possibilidade institucional e botando em prática o projeto “Voto Livre”. Marcos Juliano e Henrique Ressel, economista e advogado, respectivamente, reforçam que representam a “sociedade civil organizada”, sem partidos políticos.

O “Voto Livre” é um movimento que traz propostas de leis e assinaturas dos eleitores em Curitiba, baseados em fundamentos jurídicos. Por meio da iniciativa popular e da validade da utilização de internet para reunir assinaturas, o projeto surgiu da necessidade em fazer uma mudança no processo político brasileiro.

A iniciativa popular em que se baseia o “Voto Livre” está presente na Constituição Federal de 1988, que afirma:  “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”  (art. 1º., parágrafo único, da CF/88) e que a iniciativa de leis cabe também aos cidadãos, por meio desta disposição legal.

Em Curitiba, por intermédio dessa prerrogativa constitucional, a população pode participar diretamente do processo democrático, de forma quase direta, contanto  que 5% do eleitorado curitibano seja a favor da proposta. Esse percentual é equivalente a 65 mil votos de curitibanos.

Os idealizadores do projeto “Voto Livre” também avaliaram a utilização de meios eletrônicos para reunir as assinaturas necessárias à efetivação da disposição legal, uma vez que medida provisória do governo federal garante a autenticidade, integridade e validade jurídica de documentos em formato eletrônico.

Marcos Juliano conta que a ideia do projeto é relembrar à sociedade brasileira sobre seu direito de participar do poder legislativo. “A Constituição de 1988 nos garante o direito de exercer o poder diretamente, através do mecanismo da iniciativa popular”, explica. Como o projeto para regulamentar a disposição constitucional é municipal, somente eleitores de Curitiba poderiam votar, desde que estejam em dia com suas obrigações eleitorais e com título de eleitor atualizado.

O advogado também explica o processo de votação. “Após conseguirmos os 65 mil votos, o projeto será entregue para a Comissão de Participação Legislativa da Câmara dos Vereadores. Este entrará como uma pauta extraordinária e será colocado em votação”, diz. A Câmara, então, deve conferir a validade e a adequação do projeto de lei.

A iniciativa foi inédita no Brasil, sendo a primeira vez que os cidadãos podem legislar através da Internet, votando com seu título eleitoral. “É uma vitória da cidadania e da democracia”, comemora Marcos Juliano.

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Cartaz do movimento Voto Livre nas manifestações de Curitiba. Imagem: Fábrica de Comunicação

O primeiro projeto de lei que está sendo votado pelo sistema de  Voto Livre é a “Lei da Bicicleta”, ou “Lei da Mobilidade Urbana Sustentável”. Desde 2010, ele prevê que a bicicleta seja instituída como modal de transporte regular em Curitiba, com toda a estrutura para ser inserido na mobilidade urbana. A instalação de um maior número de ciclo-faixas, ciclovias e bicicletários, além dos que já existem na cidade, e a educação sustentável permanente são algumas das propostas do projeto de lei.

Marcos Juliano faz questão de reforçar a importância do projeto também para o motorista. “A lei vai permitir que muitas pessoas que usam carro, comecem a usar a bicicleta de forma integrada”, diz, concluindo que essa lei ultrapassa o bem apenas do ciclista, estendendo o benefício para o trânsito urbano em geral. Até agora, já foram contabilizados 14.610 votos para a Lei de Mobilidade Urbana, faltando ainda mais de 50 mil votos.

Por isso, para o futuro do movimento, a conquista da Lei da Bicicleta e a colocação de novas propostas, o advogado conta que pretendem divulgar ainda mais o Voto Livre, principalmente nas universidades. O catarse.me é um site de financiamento coletivo, principalmente de projetos criativos, e o Voto Livre tem um canal para arrecadar fundos. As pessoas podem doar, anonimamente ou não, uma quantia para o movimento. “Estamos com um projeto no catarse.me que visa arrecadar fundos para a realização de uma campanha de divulgação do movimento em todas as universidades de Curitiba”. Talvez assim, o eleitor curitibano vá ter mais noção dos seus poderes e deveres como cidadão.

Laboratório de Genética Molecular Humana da UFPR se destaca em pesquisas no meio internacional

O LGMH da UFPR se destaca mundialmente em pesquisas em genética de populações e doenças multifatoriais

Agnes do Amaral

       O Laboratório de Genética Molecular Humana (LGMH) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), localizado no setor de Ciências Biológicas, no Centro Politécnico, é voltado à análise de DNA em populações humanas e doenças multifatoriais, também conhecidas como poligênicas (doenças hereditárias produzidas pela combinação de múltiplos fatores ambientais e mutações em vários genes).

O laboratório foi fundado em abril de 1988 pela professora Maria Luiza Petzl-Erler, ainda coordenadora do projeto, quando as técnicas de análise de DNA estavam começando a ser aplicadas em genética humana ao redor do mundo.

Por ser um projeto de pesquisa científca, o laboratório não recebe investimentos diretos da universidade. “O pesquisador escreve projetos de pesquisas, que são submetidos a agências de fomento, como a Fundação Araucária. Esses projetos são avaliados pelos pares. A cada ano costumo submeter dois ou três projetos de pesquisa em busca de apoio financeiro”, explica Maria Luiza Petzl-Erler.

É desses recursos que vêm a maioria dos equipamentos, porém, apesar de bem suprido nesse quesito, o LGMH enfrenta problemas com a falta de infra-estrutura. “A infraestrutura do nosso prédio é deficitária. Precisamos filtrar a água que vem muito suja devido à estrutura hidráulica do prédio — isso compromete o andamento dos trabalhos, porque temos que investir na purificação básica da água, não apenas na destilação. A estrutura elétrica mal suporta a demanda de energia dos equipamentos.”

Outro problema apontado pela professora é o tamanho do laboratório. A equipe de quinze alunos — cinco graduandos, três doutorandos, três mestrandos e um pós-doutorando — divide com os equipamentos o espaço de 288 m².

DSC_0012 – Os equipamentos são comprados com os recursos de instituições de fomento, como a Instituição Aráucária. | Créditos: Agnes do Amaral

Pesquisas e projetos

Apesar dos problemas estruturais, o LGMH da UFPR é o líder mundial na investigação das causas genéticas da doença Pênfigo Foliáceo brasileiro, conhecida também como fogo selvagem. O Fogo Selvagem é uma doença autoimune que provoca bolhas na pele, problemas de regulação de temperatura e vulnerabilidade a infecções. Trata-se de uma enfermidade com várias causas, que incluem desde a situação fisiológica do individuo até possivelmente a picada de insetos. O Pênfigo, porém, só se desenvolverá caso o indivíduo possua certa combinação de genes. De acordo com Maria Luiza, os trabalhos do LGMH já identificaram mais de uma dezena de genes que causam a predisposição.

Outro projeto que se destaca é desenvolvido na área de genética de populações. Petzl-Erler especifica: “Fazemos estudos de genética de populações para entender as causas evolutivas e o impacto da variação comum da genética humana, chamados polimorfismos genéticos. Se enquadram nesse conceito, por exemplo, sistema sanguíneos, como ABO, Rh e outros”. No momento, o laboratório desenvolve estudos sobre o sistema HLA, antígenos leucocitários humanos, bem conhecidos pelo seu impacto em transplantes. Para que um transplante tenha sucesso é necessário que o doador e o receptor tenham compatibilidade de HLA. O sistema é um dos mais variados no ser humano: só é idêntico em casos de gêmeos monozigóticos e entre irmãos a probabilidade de ocorrência é de 25%. Os pesquisadores tentam entender os mecanismos evolutivos que levam a essa alta diversidade. ” Isso tem algo a ver, sem dúvida, com a função desses genes.

Ao estudar e comparar a variação dentro e entre as populações, além de entender as funções dos genes, certo tipo de HLA são mais prevalentes em certas populações e menos em outra, alguns tipos são exclusivos.”, completa a pesquisadora.

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– Os membros da equipe são selecionados por meio de uma entrevista e provas de conhecimentos em genética e proficiência em inglês. | Créditos: Agnes do Amaral

Equipe

Os membros da equipe do laboratório são selecionados por meio de uma prova de conhecimentos em genética geral, uma prova de proficiência em inglês e uma entrevista. A mestranda Carolina Maciel Camargo está na equipe há um ano e quatro meses e considera o laboratório muito importante para sua formação acadêmica. “Aqui a formação é bem forte para o meio acadêmico, apesar do meu objetivo não ser exatamente esse, a experiência é essencial para trabalhar numa empresa.” A experiência também pode ajudar no projeto de mestrado de Carolina, que pretende trabalhar cultivo celular, provavelmente na parte de monogenética.

Sheyla Mayumi, mestranda, entrou há quatro anos na equipe e também considera sua participação no laboratório fundamental. “É importante a experiência, o conhecimento e as metodologias que a gente adquire fazendo pesquisas.”

Apesar de reconhecido na área, por outros laboratórios e pesquisadores — há intercâmbio de ideias e pesquisas com laboratórios de outras universidades de Curitiba, como Universidade Positivo, e fora do estado e do país — o LGMH, acaba tendo pouco reconhecimento na própria universidade, mesmo no seu setor. “Não há muita divulgação do laboratório. Isso não me incomoda, mas acho que poderia ser mais divulgado.”, comenta Sheyla Mayumi.

Festival de Inverno da UFPR cria um verdadeiro campus da cultura

O evento realizado há 23 anos pela universidade reúne diferentes atividades culturais e une o público pela arte

Thays Kloss

O Festival de Inverno da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que acontece todos os anos em Antonina, trouxe, dos dias 13 a 20 de julho, a vigésima terceira edição cheia de atividades de várias vertentes artísticas, reunindo um grande público em um verdadeiro palco cultural.

Há 23 anos a Federal realiza o festival, que tem como principal motivação disseminar a arte e ajudar a construir e transformar a sociedade. Com shows, palestras, oficinas, exposições e várias atividades culturais, o público troca experiências, se diverte e  aprende.

A abertura do festival ficou por conta da banda Os Mutantes, que prestigiou o Dia Mundial do Rock,  13 de julho, e agitou oito mil pessoas de várias gerações. Na Praça Central da cidade acontecia, todas as tardes, a oficina “Vem brincar na praça você também, vem!” direcionada ao público infantil. Para quem gosta de cinema, uma Mostra de Filmes reuniu os espectadores às 14h da tarde, dos dias 15 a 19, no Auditório do Centro Estadual de Educação Profissional Brasílio Machado. Cada sessão contava com comentários feitos por professores da UFPR sobre o roteiro.

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Show dos Mutantes abriu o festival e trouxe oito mil pessoas à Antonina. | Foto: Divulgação

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Mostra de filmes reuniu espectadores nas tarde do dia 15 a 19. | Foto: Divulgação

Ainda no Auditório, foi montada uma mesa-redonda que debateu a “Cultura, Formação e Gestão Cultural”. Para o último dia, ficou reservado um Passeio de Cicloturismo com descida pela Estrada da Graciosa. O grupo de ciclistas partiu, pela manhã,  do campus das Ciências Agrárias, no bairro do Juvevê, em Curitiba, e chegaram no festival, em Antonina, por voltas das 13 horas.

Os espetáculos atenderam a todos os gostos. Ballet, orquestras, blocos de folclore, teatro, dança, músicas de todos os tipos fizeram a programação ser eclética e atender dos mais jovens aos mais velhos. “O bom do festival é que você sempre tinha algo para fazer, independente do seu gosto ou idade, isso é o mais legal de um evento assim, disseminar a cultura para todos os públicos”, afirma Ilana Andrade, arquiteta que decidiu aproveitar a semana do festival com a família e trazer os filhos que estavam de férias.

Para Ilana, o festival não só traz diversão, como conhecimento e um contato diferente com a arte que, normalmente, por falta de tempo as pessoas costumam não aproveitar ou não recebe tanta visibilidade, além de ser uma oportunidade que todos podem aproveitar.

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Bloco de folclore agitou as ruas de Antonina. | Foto: Divulgação

As oficinas também eram direcionadas a todos os públicos. As pessoas tinham que fazer a inscrição pelo site do festival, pagar uma taxa e ver o material necessário para participar. Exposições e palestras também faziam parte do evento. “É uma oportunidade única encontrar tanta arte e cultura reunidas em um único lugar, com uma abertura que permite conhecer coisas diferentes e acabar gostando de algo que antes você não conhecia tão bem, e ainda envolvendo tantas gerações”, diz Felipe Petrosky, estudante de design.

O festival conta com a participação de alunos, professores e técnicos da universidade. Todos os anos, os alunos e o público são convidados a participar e promover a integração social pela cultura. A cidade de Antonina acaba se transformando em um campus cultural aberto a toda sociedade, mostrando que a cultura é abrangente e pode estar presente e integrada ao convívio, reunindo várias vertentes e todos em um espaço que transforma, diverte e agrega muitos benefícios.

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Oficinas foram ofertadas para todos os públicos. | Foto: Divulgação

A próxima edição promete ainda mais. O reitor da UFPR, Zaki Akel, prometeu novidades que estão sendo planejadas desde já. O objetivo é conquistar cada vez mais pessoas e oferecer espaço para a arte se expressar. Sempre acontecendo na metade do ano, o festival é anunciado no portal de notícias da UFPR e aguardado por muitos, sendo já considerado uma tradição na cidade. Antonina conta com pousadas, campis e casas para alugar onde os visitantes podem aproveitar não só o evento, mas a paisagem histórica do litoral paranaense. Para quem quiser, passeios de trem podem ser feitos. Não só a cultura, mas o turismo, a educação, o público e também a universidade, que pretende integrar mais departamentos, enriquecendo o evento, acaba ganhando junto.

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Encerramento da vigésima terceira edição do Festival de Inverno da UFPR, planos já estão sendo feitos para o próximo ano. | Foto: Divulgação

Aplicativos para smartphones: um mercado promissor

Número de apps já chega a 1,8 milhão. Em Curitiba, o panorama é positivo

João G. Pellanda

Número de apps cresceu consideravelmente

Número de apps cresceu consideravelmente

Até 2011, o número de aplicativos para smartphones disponíveis no mercado atingia a marca de 1 milhão. Hoje, pouco tempo depois, o número quase dobrou: em todo o mundo são 1,8 milhão de apps, como são conhecidos. Segundo uma pesquisa feita pela Bitkom (associação das empresas alemãs de tecnologia da informação), quase 36% das pessoas que usam smartphone estariam dispostas a pagar por um aplicativo. Um mercado promissor. E tem brasileiro que já percebeu isso.

Depois de alguns anos se dedicando a um blog sobre a Apple e estudando design, o carioca Victor Anselmé resolveu entrar neste negócio. “Decidi me juntar a alguns amigos desenvolvedores para criar aplicativos que pudessem mudar o mundo, um pedacinho de cada vez”, diz ele, que hoje é designer na empresa New Tabs – desenvolvedora de apps, com sede em várias cidades do país. E a decisão já vem dando resultados.

Segundo Anselmé, o negócio pode render um bom dinheiro, mas, assim como em qualquer ramo, é preciso fazer bem feito. “Os aplicativos medianos e ruins acabam indo para o limbo da App Store”, completa. Os lucros vêm de publicidade e patrocínio, em caso de apps grátis, ou então da compra (apps pagos). O importante é conquistar o usuário.

A principal função de um aplicativo para smartphone é tornar a vida de seu usuário mais prática, em algum sentido. Resolver, desde grandes problemas, até encontrar uma forma de passar o tempo em uma fila, por exemplo. “Com a ideia em mãos, você cria um conceito e vê como isso funcionaria para o usuário”, explica Sergio Fernandes, companheiro de trabalho de
Victor Anselmé.

A produção de apps pode, também, ser destinada à grandes empresas, que buscam complementar alguma ação, ou promover algum produto ou marca. Para Piercarlo Melatti, sócio-fundador da empresa curitibana Ice Cube Inc., que desenvolve ferramentas para web, aplicativos são uma boa forma para as empresas fidelizarem o cliente. “As pessoas não querem só um produto, querem se relacionar com a marca e se identificar com isso”, diz. É um sinal de que a marca se preocupa com o cliente, proporcionando soluções individuais.

Caso uma pessoa tenha alguma ideia, e ache que isso poderia se transformar em um bom aplicativo, é possível tornar realidade. Na internet, há ferramentas que permitem a qualquer um criar um app. Para quem não entende disso, ou então prefere investir em algo mais certo, é possível contratar uma empresa. Caso o aplicativo saia do papel e faça sucesso, os lucros são divididos entre a empresa criadora e o idealizador seguindo uma proporção definida previamente. “No final tudo começa com uma ideia”, diz Victor Anselmé.

Futuro Promissor

Para Sergio Fernandes, o mercado nacional ainda se encontra relativamente aberto. “O que temos ainda é um mercado inundado de aplicativos muito conhecidos, mas que são internacionais, e uma pequena gama de serviços nacionais, que atendam especialmente ao Brasil”, diz. Segundo ele, o mercado aqui é promissor. “O mercado ainda está em crescimento, e carente de soluções feitas para o país”.

Anselmé é mais cauteloso em relação às perspectivas. Ele acha difícil prever, já que tudo depende das grandes indústrias. “Dependemos muito do que as empresas como a Apple anunciarão de novidades para seus produtos, para então sabermos qual será nosso próximo passo”, completa o designer.

Panorama curitibano

Para Piercarlo, é difícil delimitar regionalmente se tratando deste mercado. Mesmo assim, o panorama para a cidade é positivo. “Existem algumas agências de ponta, como por exemplo a SnowmanLabs, que é especialista nisso [desenvolvimento de apps]”, explica. Curitiba está entre o quarto e o quinto mercado de publicidade no país o que, segundo o Piercarlo, permite que os apps daqui sejam desenvolvidos por melhores profissionais, se tratando da relação entre mercado e salário.

Por ser um grande mercado, Curitiba também permite a existência de agências e empresas especializadas no desenvolvimento de ferramentas para web – incluindo os aplicativos para smartphone. Empreendedor nesta área, Piercarlo ressalta que a demanda existe e está aumentando. Segundo ele, o panorama aqui é de crescimento. E um crescimento natural, as pessoas buscam, cada vez mais, os apps. “É uma demanda social antes de ser mercadologica”, completa.

Propostas diferentes inovam no mercado

A inovação dos negócios na conquista de uma nova clientela e oferta de serviços não tão típicos, como uma creche para cães e uma loja para vender mangás e comics.

Caroline Socodolski

O mercado está sempre se renovando para atender novos clientes e demandas. Assim surgem negócios diferenciados com a proposta de ofertar produtos e serviços não muito comuns ou fáceis de serem encontrados. Para quem quiser pão, há uma padaria em qualquer lugar. Mas se o consumidor quiser um estabelecimento onde possa adquirir um pão fabricado com características especiais e específicas, ele terá que fazer alguma pesquisa.

Em Curitiba, é possível encontrar alguns negócios que se diferenciam por sua singularidade e ofertas não tão comuns. Um deles é o Pet Shop Príncipe e Princesa, localizado no Juvevê, onde há um serviço de creche para cães. Para não deixar o animal sozinho enquanto está fora, o dono pode levá-lo para a creche, onde o cão passará o tempo até que ele volte.

A proprietária Maria Eliza conta que ela e o marido sempre gostaram de animais, e viram a oportunidade de abrir o pet shop depois da aposentadoria. “Nosso desejo era abrir um pet shop nos moldes em que a gente gostaria que atendessem os nossos [animais]”, diz ela. Hoje o local conta com piscina de bolinha, TV com desenho animado e escorregador para os cães.

O espaço atende cães de pequeno a médio porte. Quanto a gatos, a proprietária declara ser mais difícil atender, pois estes podem escalar muros. Até a agora, nenhum felino foi levado à creche, embora haja uma procura para banho e tosa. Segundo ela, os cães que passam pela creche tendem a ficar mais sociáveis. Nunca houve uma briga, mas alguns animais têm problemas com outros. O convívio com seus ‘companheiros de creche’ ajudaria a inverter esse quadro e torná-los mais dispostos ao contato pacífico.

Pug na creche para cães. Crédito: Caroline Socodolski

Pug na creche para cães. Crédito: Caroline Socodolski

Outro negócio diferenciado é a Comic Shop Itiban, loja especializada em HQs (revistas em quadrinhos) e mangás (gibis de origem japonesa), no Rebouças. A loja completará 25 anos de funcionamento em outubro e seu nome, vindo do japonês, significa “primeiro”. Dentro dela, já foram realizados eventos com a presença de cartunistas e autores de algumas obras. No início de julho, por exemplo, aconteceu o lançamento da graphic novel Turma da Mônica – Laços. Nele, compareceram os autores Vitor e Lu Cafaggi – dois irmãos que desenharam e criaram o roteiro da história.

Muitos outros artistas já passaram por eventos semelhantes na Itiban, que somam mais de cinquenta. A loja também já recebeu artistas gráficos e escritores de outros países, como Argentina, Uruguai e Alemanha. “É como se fosse o lançamento de um escritor, em uma livraria”, explica o gerente Luiz Francisco Utrabo. Nessas ocasiões, um painel é aberto, para que os autores respondam as perguntas do público e, depois, realiza-se uma sessão de autógrafos. Há também um streaming (vídeo em tempo real) pela internet, para aqueles que não podem ir pessoalmente ao evento mas querem acompanhá-lo.

O carro-chefe do local são os mangás e HQs, mas peças de memorabília também são vendidas – produtos que remetem a uma determinada história, como o anel da obra (em livro e filme) O Senhor dos Anéis. Para Utrabo, há uma justificativa pelo fato da venda desse tipo de produto não ser tão comum: a maioria deles é importada, e o governo brasileiro impõe barreiras alfandegárias e tributárias que dificultam sua compra. “Nesses 25 anos, a gente só não cresceu mais porque não pudemos”, diz. Essas barreiras de importação também impedem a agilidade que outros países oferecem nesse tipo de mercado.

Redes Wi-fi em Curitiba apresentam problemas

A internet gratuita oferecida em alguns pontos da capital nem sempre cumpre a velocidade prometida, mas auxilia a população a se manter conectada

Thaís Macedo

                Em 2009, Curitiba disponibilizou rede Wi-fi gratuita em três pontos movimentados da cidade: o parque Barigui, o Mercado Municipal e a Praça Rui Barbosa. Desde então, outros oito pontos da cidade ganharam a rede, que, atualmente, conta com cerca de 1.500 acessos por dia.: Praça da Espanha, Largo da Ordem, Jardim Botânico, e as Ruas da Cidadania do Boqueirão, Pinheirinho, Fazendinha, Boa Vista e Santa Felicidade. Porém, nem sempre o serviço funciona como deveria.

Internet em alguns pontos ainda é lenta. Crédito: Gazeta do Povo

As principais reclamações são sobre a velocidade. “O acesso é muito lento e vive caindo”, explica Matheus Souza, estudante de 16 anos. Matheus costuma usar a rede para acessar perfis sociais enquanto passeia no Parque Barigui, nos fins de semana, mas diz que raramente consegue conectar a internet com seu tablet.

Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal Gazeta do Povo em junho desse ano, o melhor ponto para usar a internet gratuita em Curitiba é a Praça da Espanha, com velocidade de upload e download acima da prometida pelo Instituto Curitiba de Informática (ICI) que garante uma velocidade de 2 megabits por segundo. Na Praça, localizada no bairro Batel, a conexão atingiu 4,44 megabits por segundo. A pior rede, dentre os mesmos critérios, foi a do Mercado Municipal: a baixa velocidade de navegação e download faz com que o ping (tempo que um pacote de dados demora para ser enviado do computador ao servidor e voltar) de 0,12 milissegundos, contra o ping de 32 milissegundos na Rua da Cidadania no Boqueirão, o maior da cidade.

“Sempre uso a rede aqui e nunca tive problemas. É um pouco lento, mas para checar os e-mails e ver sites de notícias, funciona”, relata Thalita Rodrigues, contadora, que leva seu notebook para o Jardim Botânico. Para  Rodrigues, a rede pública de wi-fi não é indispensável, mas ajuda na manutenção de uma sociedade cada vez mais conectada. “Não fico sem internet. Se não tivesse o wi-fi no parque, usaria o serviço 3G no celular”, conclui.

SEGURANÇA

Apesar da praticidade, usar redes Wi-fi em lugares públicos pode ser perigoso. Afinal, uma pessoa mal-intencionada pode ter facilidade em acessar seus dados. Para isso, algumas dicas são importantes para proteger sãs informações.  O professor de informática Rodolfo Lopes ensina como se proteger.

A dica mais importante é nunca fazer compras online em lugares públicos. Também não é uma boa ideia digitar dados do seu cartão de crédito, como número e senha, ou qualquer outra informação financeira, como números de conta em banco. “Todas essas informações podem ser acessadas por um hacker habilidoso, e podem fazer um grande estrago”, explica Lopes, que ensina: “Caso seja indispensável, confira se o site que requere essas informações tem um ícone de cadeado no canto inferior direito da janela do navegador. Certifique-se que a URL do site comece com https://. O ‘s’, nesse caso, significa ‘seguro’.”

Evite também usar qualquer site que exija senhas, como contas de redes sociais e e-mails. Um hacker pode facilmente copiar seus dados caso esteja usando a mesma rede, deixando suas informações pessoais vulneráveis. Caso queira utilizar esses sites, ative a opção de segurança deles – que impede que o site envie cookies, ou seja, salve suas informações como senha e login.

Também é importante ficar atento a avisos de segurança que seu computador emite, como “certificado de segurança inválido”. Caso você veja esse aviso, evite usar o site.

Espartilhos do século XXI: A Produção de Corsetmakers

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“Fazedores de corsets” ganham a vida produzindo réplicas fiéis de modelos de espartilhos do século XIX para mulheres contemporâneas

Kathleen Cochek

Evolução dos espartilhos medievais utilizados principalmente pelas mulheres que apareciam com cinturas minúsculas, os corsets aparecem atualmente com nova roupagem, adequada ao dia a dia contemporâneo. Tanto para utilização de moda ou para Tight Lacing (“laço apertado”, em tradução literal, é a prática de usar corsets para treinos diários por mais de oito horas, feito sob medida e confortável ao corpo para quem mantém hábitos saudáveis na prática) os corsets tomam espaço no mercado da moda e das lingeries, onde aparecem com outra modelagem, os chamados corselets.

Quem confecciona os atuais espartilhos são os corsetmakers, que estudam a produção da peça aprimorando técnicas de costura e modelagem para adequar aos corpos das clientes. Deborah Renck, dona da Ufashion Corsets, de Curitiba, é corsetmaker há cinco anos e confecciona peças para Tight Lacing, vestidos de noiva, corsetdresses (“vestidos-corset”), réplicas de corsets de filmes e modelos exclusivos de acordo com o gosto da cliente.

KC: O que é uma corsetmaker?

Deborah Renck: É uma “fazedora de corsets” sob medida.

KC: Como e por que decidiu se tornar uma?

Deborah Renck: Eu tinha um sonho desde 1998 de abrir uma marca de loja de roupas alternativas para todas as vertentes do rock. Mas quando se começa a estudar, você quer abraçar o mundo. Sou formada em Moda, entrei em 2003, e no processo dos quatro anos de faculdade,  decidi que tinha que fazer um produto só e focar nele para poder crescer. Eu já apreciava muito a indumentária antiga, medieval, e acabei me apaixonando pela indumentária vitoriana (da Era Vitoriana, período do reinado da Rainha Vitória na Inglaterra no século XIX). A moda desse período é representada por rendas, babados, mangas bufantes, laços, e espartilhos. Nela, o principal são os corsets, então mergulhei nisso.

KC: Há quanto tempo você faz corsets?

Deborah Renck: Desde 2008.

KC: O que o corset representa para você?

Deborah Renck: A busca pela feminilidade.

KC: Você pratica Tight Lacing?

Deborah Renck: Não, mas vou praticar. Com meu próprio corset.

KC: Você acha que a corseteria sofre preconceito?

Deborah Renck: Não preconceito, mas os grandes corsetmakers brasileiros acabam desestimulando os corsetmakers mais populares. Mas eu vejo que a corseteria está em ascensão nesse momento.

KC: Que tipos de pessoas costumam te procurar?

Deborah Renck: Mulheres que querem praticar Tight Lacing, meninas que querem corsets para festas ou algo mais exclusivo, como modelos de filmes. Eu fiz, por exemplo, o modelo Van Helsing (O Caçador de Monstros, no Brasil, filme baseado na história do Conde Drácula junto de outros monstros), o modelo Underworld (Anjos da Noite, no Brasil, é um filme sobre vampiros e lobisomens) etc.

KC: Quem é sua principal inspiração nesse ramo?

Deborah Renck: A Maya Hansen, que é uma corsetmaker gringa muito boa, a melhor que eu conheço. E no Brasil, o Marcelo Lima, da Ferrer Corsets.

KC: Quantos corsets você já confeccionou?

Deborah Renck: Muitos, mais de cem.

KC: Existe alguma coisa que te inspira a costurar, criar novos modelos?

Deborah Renck: Ver filmes de época me inspira bastante. Também me inspira ver criação de outros corsetmakers, não em função de cópia, mas quando falta aquele “ponto final” para a coleção é legal ver outras coleções.

KC: Tem alguma outra paixão além do corset?

Deborah Renck: A própria indumentária antiga no geral, tanto vitoriana quanto eduardiana.

KC: Corseteria é um negócio rentável?

Deborah Renck: Sim. Eu estou começando a crescer aos poucos, desde 2008 lutando, porque no Brasil, infelizmente, só tem um fornecedor de material apropriado. Está começando a vir coisas de fora agora, mas estamos torcendo que venham mais fornecedores  para cá. Mas é rentável. Agora o que eu quero é ir para o centro da cidade com a Ufashion porque tem um público legal pra eu crescer bastante.

KC: Quanto custa um corset da UFashion?

Deborah Renck: Depende do modelo, do tecido, dos fechos. Eu tenho modelos mais simples a partir de R$ 290; de Tight Lacing por cerca de R$ 350; e os mais trabalhados e demorados que podem chegar a mais de R$ 600. Eu faço à vista, em duas vezes no depósito bancário ou parcelado no Mercado Livre ou no PagSeguro (aplicativo de pagamento criado pelo site do UOL).

Modelos da Ufashion Corsets estão disponíveis em sua página no Facebook (https://www.facebook.com/pages/U-Fashion-Corsets/139821179407231?directed_target_id=0), no blog (http://fashionunder.blogspot.com.br/) e no site (http://www.ufashioncorsets.com.br/).

 

 

Ativistas de Bicicleta se multiplicam em Curitiba

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Cicloativistas são as pessoas que tomam a bicicleta como meio de transporte.  Apesar da falta de dados, em Curitiba eles estão cada vez mais presentes

Kathleen Cochek

Nos últimos anos a utilização da bicicleta para locomoção aumentou. Apesar de o ativismo político por parte dos ciclistas ter se iniciado, no mundo, na década de 70, foi apenas nos últimos anos que pudemos ver essa mudança nas cidades brasileiras. Alguns tornar-se ciclistas urbanos por quererem cuidar mais da saúde, outros para não pagar ônibus ou para preservar o meio ambiente ao evitar o uso do carro —  o fato é que Curitiba abriga vários ativistas de bicicleta.

Todos os dias milhares de curitibanos tomam as ruas com suas bikes. Leonardo Hess é um deles. Há três meses, o jovem de 20 anos que se prepara para ingressar na Polícia Militar trocou o ônibus pela bicicleta. “Decidi, pelo incômodo de andar de ônibus, que é caro, lotado e sem qualidade”. Além disso, Hess viu os benefícios extras que a pedalada trazia. “Além das vantagens para a minha saúde ainda economizo tempo”. Atualmente, o estudante pedala 6 quilômetros por dia, mas esse número já foi maior. “Quando eu trabalhava, costumava pedalar 20 quilômetros, agora apenas vou para a academia de bicicleta”.

Quanto à quilometragem, Juliano André Felipe, o “Lasanha”, se assemelha a Hess. O analista de sistemas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) costuma pedalar de 7 a 30 quilômetros, mas evita pegar a bike para distância menores que 3 quilômetros. “Vou a quase todos os lugares que posso de bicicleta: mercado, casa da namorada, casa de amigos”. O que o motivou a se tornar cicloativista foi a vontade de mudar a cidade. “Cada vez mais vejo o trânsito piorando, e com isso o respeito que as pessoas têm umas pelas outras. Com a bicicleta me sinto útil para a cidade, diminuindo o congestionamento e ajudando o meio ambiente com um carro a menos”.

Guilherme “Vermelho” Glir, estudante do 12º período de Publicidade de Propaganda da UFPR vê ainda mais vantagens, relacionadas à sua profissão. “Andar de bicicleta permite que se tenha outra visão da cidade. Das pessoas, das ruas, dos pontos turísticos, dos lugares que  nunca passaria sem estar de bicicleta. Para quem é publicitário e precisa diariamente de referências, a cidade é uma fonte inesgotável delas”.

Trânsito Seguro

Mesmo com o risco do trânsito, Juliano Felipe não se sente intimidado. “Me sinto relativamente seguro andando de bicicleta nas ruas, junto com os carros. A maioria dos motoristas respeita a bicicleta. Existem os que ‘tiram fina’ do ciclista, os que xingam e os que até param para tentar arranjar briga, mas vejo que o número desses tipos de motorista diminui a cada dia”.

Leonardo Hess, contudo, não sente tanta melhoria. “Não me sinto seguro, principalmente quando tenho que andar nas canaletas (do ônibus expresso). Alguns motoristas parecem ter ódio de ciclistas”.

Guilherme Glir, por sua vez, acha que o respeito dos motoristas deriva da atitude dos ciclistas. “Se você anda de acordo com o código de trânsito (com luzinhas na bicicleta, com roupas coloridas, no sentido dos carros, de luva, capacete, etc.) os motoristas respeitam”.

Jonas Dombrosky, estudante do 3º período de Relações Públicas também da UFPR, concorda e diz que o segredo é andar junto com os carros, assim sempre se sente seguro. “Sempre tem os que respeitam e os que não respeitam, por isso é preciso  conscientização tanto dos motoristas quanto dos ciclistas, e até dos pedestres. Com todos se ajudando, a harmonia é inevitável”, diz o cicloativista, que pedala 30 quilômetros por dia pelo prazer em praticar esporte, economia de dinheiro e pela preservação do meio ambiente.

No entanto, o perigo existe. Desde janeiro de 2013 o Corpo de Bombeiros de Curitiba registrou 265 atendimentos de emergência a ciclistas feridos em colisões com carros, motos e ônibus.


Ciclovias não são suficientes

Mesmo com mais de 100 quilômetros de ciclovia, os cicloativistas reclamam das condições das vias voltadas para as bicicletas. “Não acho que existam vias cicláveis suficientes. Existe um bom número, mas as ciclovias são mal planejadas e as ciclofaixas são muito estreitas, não recebem o devido respeito por grande parte dos motoristas e pedestres”, opina Juliano Felipe. É por isso que os cicloativistas utilizam as vias normais para se locomover. Estas, na opinião deles, estão boas para pedalar. “As condição das vias são boas, mas poderiam estar melhores. Existem buracos, bueiros e guias que oferecem um grande risco ao ciclista que transita muito próximo a elas”, diz. Para Hess, o problema é as ciclovias não serem como as vias tradicionais. “Na parte que tem ciclofaixa é muito bom pedalar. As outras vias também são excelentes, o problema é dividir com os automóveis”. Além disso, nem todas as vias são boas para pedalar.

Para Juliano Felipe, a periferia sofre com vias sem qualidade.
“As melhores vias estão no centro ou bairros nobres da cidade. Em bairros mais afastados é sofrível, muitas são tão esburacadas quanto uma estrada de chão”, reclama. Para Glir, o centro não é tão bom pela quantidade de carros, não sobrando tanto espaço para os ciclistas.

Juliana Buss, estudante de Psicologia da UFPR que pretende usar a bicicleta como meio de transporte, acha que o perigo do centro são as ciclovias desertas. “Além de haver muita subida e poucas ciclovias, é perigoso ser assaltado naquelas perto do centro, que são muito vazias”. Mesmo assim, Juliana não perde a vontade de pedalar. “Já fui uma vez até a Santos Andrade (praça no centro da cidade que abriga o Prédio Histórico da UFPR) de bicicleta — só foi ruim para voltar por causa do sol. Mas eu gosto de fazer exercício físico e a bicicleta relaxa e diminui o stress”.

A prefeitura de Curitiba tem projetos na área de mobilidade, sendo um deles a construção de 300 quilômetros de ciclovias na cidade, além da construção de calçadas. O orçamento do projeto, que sairia em torno em R$ 225 milhões, foi, entretanto, recusado pelo governo federal, com a justificativa de priorizar investimentos nas vias, não em calçadas e ciclovias. Apesar disso, a assessoria de imprensa do Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) diz que as obras serão executadas com outros recursos.

 

Ainda falta melhorar

Unanimidade entre os cicloativistas (que pedalam entre 6 e 30 quilômetros diariamente) é a opinião sobre as vias. Todos clamam por mais ciclovias e mais segurança, porém, Guilherme Glir vai mais longe, sugerindo mudanças até em empresas. “Poderia aumentar a quantidade de pessoas largando os carros e pegando as bicicletas. Também a quantidade de empresas colocando vestiários para os funcionários tomarem banho. Além disso, o respeito dos motoristas para com os ciclistas é fundamental”.

Alto custo do ingresso elitiza o público nos estádios de futebol

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Novos preços tornam os campos de futebol inacessíveis às populações mais pobres, inclusive em Curitiba.

Miguel Mello

A final da Copa Libertadores da América disputada no dia 24 de julho, entrou para a historia do futebol brasileiro também fora das quatro linhas. Além do primeiro titulo continental do Atlético Mineiro, a renda do jogo superou os quatorze milhões de reais e quase dobrou o antigo recorde nacional, que era de pouco mais de oito milhões. Quando se faz os cálculos, percebe-se que os 60 mil torcedores que compareceram ao estádio pagaram em média mais de 230 reais por cada entrada.

ingressoIngressos para a final da Copa Libertadores atingiram preços muito altos. Disponível em http://www.bhaz.com.br

Esses números contrastam com a tradição das massas ocuparem os campos de futebol. Se antes os bilhetes não passavam de 20 reais, hoje é difícil achar algum, no lugar mais barato do estádio, que não supere os 50 reais. Ao mesmo tempo, os pacotes de televisão e compra dos jogos estão mais acessíveis, e as classes mais baixas, que antes só tinham a opção de ir ao estádio para acompanhar seus times, passaram a acompanhá-los a distancia. Para o sociólogo e escritor Mauricio Murad, este processo de inversão é resultado da insensibilidade da maior parte dos grupos que administram os estádios, além das federações e os próprios clubes. “Não entendem que o futebol é uma de nossas mais influentes identidades públicas e que, portanto, os estádios não podem perder a força da presença popular, a força que fez e faz do futebol o maior evento de massas no Brasil. Isso acontece porque esses grupos econômicos (consórcios e outros administradores de estádios) somente visam o lucro”, conta.

Copa não é desculpa

Este processo de elitização dos estádios de futebol no Brasil é constantemente associado às novas arenas construídas para a Copa do Mundo de 2014. Para pagar os custos, os consórcios que administram os lugares têm colocado preços caríssimos nos ingressos. Como resultado, nem todas as áreas do estádio têm sido ocupadas. Um exemplo disso foi o clássico entre Fluminense e Vasco, que marcou a reabertura do Maracanã. Apenas os ingressos atrás dos gols, que além de serem os mais baratos são os únicos cujo dinheiro vai diretamente para os clubes, foram comprados em grande quantidade. O resultado disso foi um estádio ocupado apenas pela metade. “Até mesmo para garantir uma boa margem de lucro, é preciso entender que futebol é cultura popular e que a maioria de nossa população ainda vive em condições precárias. Quem não entende isso, não entende de Brasil, nem de futebol brasileiro”, explica Murad.

Mas, mesmo com o alto custo das obras para a Copa do Mundo, outros países que passaram pelo mesmo processo não precisaram elevar tanto o preço das entradas. É o caso da Alemanha, por exemplo, que tem a maior média de público do planeta, assim como ingressos a preços bem mais acessíveis que os brasileiros. Para o sociólogo, falta planejamento para que se possa atingir isso no Brasil. “É possível, sim, basta querer e ser inteligente, tanto no planejamento quanto nos fundamentos culturais e sociais dos eventos esportivos”, afirmou.

Fidelidade encarece o ingresso

O plano de sócios é uma das formas de garantir um lucro fixo para os clubes. Como uma estratégia de forçar os torcedores a aderirem aos planos de fidelidade, os clubes têm colocado o preço dos ingressos a níveis altíssimos, para que só valha a pena ir ao estádio se o torcedor comprar o pacote com todos os jogos da temporada. O que por um lado é bom para o clube e para quem tem dinheiro para pagar os planos, que garantem mais conforto ao usuário, por outro afasta as massas dos estádios, e restringe a possibilidade de assistir o jogo a um grupo menor.

Nos clubes da cidade de Curitiba, esse aumento é muito perceptível. Não por acaso, Coritiba, Atlético Paranaense e Paraná Clube tem planos de sócios com muito sucesso. Ao mesmo tempo, o ingresso inteiro mais barato no Couto Pereira (estádio do Coritiba) custa 95 reais. Quando manda seus jogos na Vila Capanema, o Paraná Clube cobra 40 reais. Já o Atlético chegou a cobrar 150 reais nos ingressos mais populares, mesmo enquanto não joga na Arena da Baixada, que está em reforma para a Copa do Mundo. Tudo isso reflete a tentativa de fazer a associação aos planos o único modo de se garantir dentro estádio.

Apesar disso, muitas pessoas acham válida essa nova realidade. Leonardo Ramos é torcedor do Coritiba, e acha que paga um preço justo. “Não consigo ver o preço do ingresso na arquibancada a 95 reais. Por exemplo, uma mensalidade do sócio arquibancada custa 65 reais, para ir em três ou quatro jogos, dá pouco mais de 20 reais por mês. Muita gente está afastada dos estádios de futebol pelo alto preço dos ingressos, mas a grande maioria está desinformada dos planos de sócios. Quando eu comecei a ir nos jogos eu pagava menos de 8 reais no meio ingresso e 16 anos depois pago 20 reais por jogo num ingresso inteiro. A diferença não é tanta assim.

Por outro lado, Mauricio Murad vê os planos de sócios mal aplicados. “É uma interessante alternativa, mas, como tudo no Brasil, foi implantada em alguns clubes de forma apressada e como solução mágica para os problemas de caixa do futebol brasileiro”. Ele ainda completa “É fundamental democratizar as relações entre torcedores e clubes”.

Raphael Santos: “Circo é vida, é alegria”

Artista apaixonado por artes circenses nos conta um pouco sobre suas atividades e a dificuldade que alguns jovens enfrentam para escolher profissões

Por Kaleb Ferreira

Raphael Santos é malabarista de semáforos e vive disso há mais de dois anos. Hoje, com 19 anos de idade, ele tenta se aproximar das artes circenses, universo que, em suas palavras, “é encantador”. Raphael preza primeiramente a liberdade de cada um. Podemos dizer que ele é uma exceção à regra; enquanto a maioria dos jovens se preocupa excessivamente com o futuro, com o vestibular e as escolhas que devem ser tomadas, Raphael prefere a felicidade e a satisfação pessoal. E ele viveu isso na pele: decidiu fazer as coisas que lhe dão prazer durante o Ensino Médio, época de difíceis escolhas para os jovens. Em entrevista ao blog Leite Quente, ele fala um pouco sobre o seu trabalho e sobre a pressão que muitos jovens sofrem em relação ao futuro.

Raphael e suas inseparáveis claves: o malabarismo é sua principal atividade

Raphael e suas inseparáveis claves: o malabarismo é sua principal atividade

Kaleb Ferreira: Raphael, com que você tem trabalhado ultimamente?

Raphael Santos: Há quase dois anos, ou talvez mais, trabalho apenas com malabarismo, principalmente em semáforos pelos lugares onde passo. E por mais que volta e meia esteja morando com minha mãe, onde eu tiver que viver, conseguirei me sustentar e viver bem e feliz; utilizo as habilidades que tenho que me ajudam a tirar o meu dinheiro.

KF: Podemos dizer que seu trabalho não é algo tão usual. Muitas pessoas fazem isso por necessidade mesmo, mas você demonstra um grande prazer. Por quê?

RS: Porque é o que me faz bem, é o que me deixa feliz, e tive oportunidades para desenvolver muitas técnicas que hoje conheço. Outra coisa que também conta muito é o apoio familiar que tive e tenho sempre.

KF: Você sempre está tentando fazer coisas diferentes. Das atividades que você faz, ou já fez, qual sua preferida?

RS: Já pratiquei muito das atividades extra-curriculares oferecidas nos colégios em que estudei. Talvez, na época, pelo motivo de precisar perder um “pouquinho” de peso, me dedicava mais aos esportes que me faziam suar. Mas em um colégio em que estudei tive a oportunidade maravilhosa de conhecer um pouco do circo e os malabares, o que me encantou muito.  E hoje sem duvida o circo é a minha atividade preferida, pois ela me dá a possibilidade de ter muita liberdade. Talvez ali possa brincar um pouco de esgrima, judô, fazer uma embaixadinha, ou se quiser acreditar mesmo na magia do circo, poderei até mesmo nadar a hora que eu quiser. Circo é vida, é alegria.

KF: Você é um exemplo de escolha alternativa de carreira profissional. Como vê essa questão da escolha dos jovens atualmente?

RS: O que está muito forte atualmente infelizmente é a repressão de muitos pais devido aos sonhos e desejos que cada jovem tem. Como disse, tive sorte de ter um grande apoio familiar. Então vi que isso me faria feliz. Quanto à questão da repressão, o papo se alongaria muito, com discussões e discussões, mas para os jovens que não estiverem sufocados com pais energizados querendo que os filhos façam o que eles talvez quisessem fazer ou façam, diria apenas que busquem toda a felicidade. A profissão que estiver te fazendo bem é a melhor que se pode ter no momento.

KF: Mesmo sendo jovem você já tem uma grande experiência de vida. O que você diria aos jovens que não sabem “o que fazer da vida”?

RS: Cara, digo a todos eles que busquem a felicidade, a alegria, o bom humor, e o respeito entre toda a sociedade com que tiver contato durante seus trajetos profissionais e até mesmo durante sua vida.

Em apresentação no “Palco Livre”, na Cia dos Palhaços, Raphael “contracena” com Timóteo, um balão

Em apresentação no palco livre da Cia dos Palhaços, Raphael “contracena” com um balão

Marchando contra a maré

A Marcha das Vadias defende os direitos femininos e de outros grupos historicamente oprimidos pela sociedade patriarcal. Mas também é alvo de críticas que podem, sim, ser construtivas.

Rafaela Sinderski

Com gritos de ordem como “o corpo é da mulher e ela dá pra quem quiser” e “se ser livre é ser vadia, então somos todas vadias”, o movimento feminista Marcha das Vadias luta pelos direitos das mulheres e de outros grupos de minoria, tais como o LGBT. Seguindo a filosofia do “meu corpo, minhas regras”, a organização tem sua atividade mais intensa no combate à violência de gênero e à cultura do estupro; mas isso não a impede de levantar outras bandeiras.

A Marcha conquistou também as ruas da capital paranaense. Crédito: divulgação

A Marcha conquistou também as ruas da capital paranaense. Crédito: divulgação

A Marcha nasceu em resposta à ação de um policial canadense em 2011, que transferiu a culpa da violência sexual cometida contra uma mulher à própria vítima, dizendo que o episódio poderia ser evitado caso ela não se vestisse como uma “vadia”. O acontecimento uniu manifestantes primeiramente em Toronto, Canadá, local onde o fato ocorreu. Depois disso ele ganhou o mundo e suas ruas – incluindo a cidade de Curitiba – conquistando cada vez mais adeptos que vão marchar de peito erguido e à mostra.

Ana Paula Salamon é comunicadora atuante na área de direitos humanos e militante da Marcha de Curitiba. Seu primeiro contato com o movimento ocorreu em 2011, quando participou dele pela primeira vez. “Tudo aquilo me impactou demais. Foi marchando, lendo cartazes e ouvindo as palavras de ordem que eu entendi que EU era mulher – e o que significava ser mulher nesta sociedade machista”, diz Salamon, que alega ter evitado todo e qualquer debate feminista antes disso. Para ela, a luta pelo gênero ganhou força em sua vida a partir da Marcha. “Foi por conta da Marcha que tive um contato mais aprofundado com debates como a questão das pessoas trans, do binarismo de gênero, dos privilégios, e violências de gênero mais específicas, como contra mulheres negras, trans, pobres, surdas…”, afirma.

Para ela, a organização consegue englobar diversas bandeiras sob o mesmo intuito de protestar. O objetivo da Marcha e de seus participantes não seria unicamente gritar contra a larga distinção de tratamento e privilégios entre gêneros. O repúdio à LGBTfobia, a defesa do movimento negro e estudantil e o combate pesado à cultura de estupro cultivada pela sociedade patriarcal são pautas presentes no movimento. “Essa diversidade é um dos fatores mais importantes para mim, porque é na diversidade, e lidando com ela, que se percebe que determinados segmentos da população são mais privilegiados que os outros”, conta a comunicadora, para ainda completar: “Se a Marcha é agregada por essa miríade de pessoas tão diferentes, significa que ela consegue articular essas várias bandeiras e lutas, e que consegue ser um espaço de voz e expressão pra informar sobre essas especificidades”.

Segundo Ana Paula Salamon, a Marcha permite que seus integrantes conheçam e se apoderem de seus direitos e da propriedade de seu próprio corpo, reconhecendo-o como apenas seu e assumindo que, perante tal questão, são suas vontades que devem preponderar. “Muitas vezes é participando da Marcha que as pessoas passam a atentar sobre as suas condições na sociedade e se colocam a refletir sobre as desigualdades, sobre as diversas formas de violência e opressão que mulheres sofrem, sobre como o capitalismo e a grande mídia explora, torna objeto e aliena os sujeitos violando os seus direitos. Esse empoderamento é fundamental para desatar as amarras que o machismo impõe a cada uma e a cada um”, explica a feminista. A comunicadora ainda afirma que o movimento não trata do feminismo convencional, se propondo a escrachar normas sociais, como a heteronormatividade, binarismo de gênero, mordaças religiosas, e a usar o próprio termo “vadia” como sinônimo de liberdade e como uma característica de seus participantes.

O outro lado da moeda

Porém, nem todos os militantes feministas concordam integralmente com a organização e com a alcunha que rola em seu interior. Tatiana Audi Badra é da ala mais extremista do movimento e mantém, juntamente com outras mulheres, o blog feminista “Não Sou Cis!”. Para ela, a “energia” revolucionária e de protesto, apesar de válida, foi canalizada de modo errado pelas integrantes da Marcha das Vadias. A começar pela apropriação da ofensa como título do protesto, que teria sido um equívoco. “É um termo que não tem porquê ser retomado. Ele não repele a cultura de estupro. Pelo contrário, a alimenta”. Segundo ela, a formação do movimento seria elitista e não representaria aquelas que sofrem preconceito e violência com mais frequência e intensidade: as prostitutas. “As prostitutas de verdade não são meninas de classe média que se ‘travestem’ de uma caricatura de o que elas acham ser uma ‘vadia’ por um dia e saem nas ruas para protestar contra a cultura de estupro – as prostitutas são um grupo verdadeiro e marginalizado, e, quando são chamadas de vadias, não são empoderadas e nem liberadas; muito pelo contrário, são pornificadas e objetificadas”, aponta Badra.

Outra questão que preocuparia a blogueira com relação à Marcha é a falta de base teórica daqueles que a integram. “A maioria das meninas que vai à Marcha não é estudada em Teoria. Eu acho que a iniciativa e a ideia inicial são boas, mas acredito que a falta de respaldo teórico é gritante”, afirma.

Tatiana Audi Badra ainda fala que a pornificação do feminismo liberal é preocupante e serve como uma moeda misógina de uma sociedade secularmente machista. “Prostituição é violência contra a mulher, e reclamar um termo que é usado contra nossas irmãs quando elas estão sendo estupradas e mortas por homens misóginos que usam seus corpos para seu prazer não é libertador: é patriarcal”, fala a feminista sobre a defesa da prostituição e da pornografia e sobre o uso da palavra “vadia” como um meio de lutar contra a cultura do estupro. “Para mulheres brancas e não marginalizadas pode parecer empoderador gritar ‘sou uma vadia’, mas para mulheres negras, marginalizadas, presas, pobres, não ocidentais, as consequências e o significado disso é diametricamente diferente”, finaliza.

Por fim, Badra aponta a falta de preocupação do feminismo liberal com a coletividade. De acordo com ela, tratar a situação como uma simples questão de opção própria é desconsiderar a grande parcela de pessoas que não têm escolhas a fazer por não possuir tal luxo ou oportunidade. Entretanto, ela esclarece que seu posicionamento não é um ataque à organização: “Não me posicionaria contra nenhum tipo de atividade que uma mulher faz a favor de outras mulheres. É que o Feminismo Radical rejeita completamente a noção de individualidade acima da comunidade. Nós lutamos por TODAS as mulheres e não pelo direito individual de ‘escolha’. Porque, dentro do patriarcado, ‘escolha’ é uma palavra carregada e não é nada mais do que uma ilusão”.

Participação do Cacos poderia ser maior em questões políticas da UFPR

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Centro Acadêmico de Comunicação Social preza mais pela integração dos alunos

Por Kaleb Ferreira

Como qualquer outro Centro Acadêmico, o Cacos (Centro Acadêmico de Comunicação Social) dá suporte aos alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em assuntos referentes ao curso em si e à universidade. Mas, diferentemente da maioria dos outros órgãos estudantis internos, o Cacos vai além e acabou se tornando uma segunda casa para os estudantes das três habilitações de Comunicação Social da UFPR.

Localizado no bairro do Cabral, o campus de Comunicação Social possui vários outros órgãos funcionando no local, além do Departamento de Comunicação, como a Imprensa  Universitária e a UFPR TV. Mas, é em um cantinho, numa pequena e personalizada sala que o Cacos se instala. Ele é a voz do aluno no curso e por isso faz parte das discussões e assuntos acadêmicos, como no caso da greve dos professores do ano passado, quando os alunos também declararam paralisação. Além disso, o Centro Acadêmico ajuda nas reivindicações de alunos e docentes, especialmente em assuntos como a estrutura dos cursos e em sua própria organização (estágios, matérias disponibilizadas, etc).

Alunos declaram paralisação junto com professores na maior greve da história da UFPR, em 2012SCA

Alunos declaram paralisação junto com professores na maior greve da história da UFPR, em 2012

Como parte do processo de integração a que se propõe, o Cacos também promove eventos para os estudantes, como festas para inserir novos alunos no ambiente universitário, e oficinas e palestras sobre os mais diversos assuntos. Para Mário Teixeira, estudante de Jornalismo da UFPR, esse apoio é ótimo. Ele defende até uma maior quantidade de movimentação. “Produção cultural e trabalhos criativos em geral são sempre bem-vindos. Quanto mais houver, maior poderá ser o entrosamento dos estudantes. E além de oportunizar momentos de descontração, o Cacos está aberto a debates que ajudam a formar consciência social e política”, explica Teixeira.

Presidente da  gestão atual do Cacos – “Chama o Síndico” -, Armando Boelter explica que o centro acadêmico tem sido muito ativo tanto nas discussões atuais da Universidade quanto nas atividades organizadas para os alunos, como palestras com especialistas de diversas áreas, workshops e confraternizações. Além disso, é um lugar especial para os estudantes. “O Cacos é a voz dos alunos perante a universidade. É lá que os alunos se conhecem melhor, onde surgem as primeiras amizades na faculdade”, diz Boelter.

As opiniões são divididas: uns defendem que a participação do Cacos é insuficiente, outros defendem a maneira como o trabalho é realizado. Toni André Scharlau Vieira, chefe do Departamento de Comunicação Social (Decom), diz que a relação com o Cacos é respeitosa e colaborativa. Entretanto, para ele, poderia haver uma maior participação nas pautas políticas da Universidade. “Um centro acadêmico é fundamental. O Cacos cumpre o papel de integração e representação. O que pode ser ampliado é o debate político e uma maior atividade cultural”, defende Vieira.

Feirinhas fazem sucesso na capital paranaense mesmo no inverno

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 O frio de Curitiba não intimida moradores a comparecem nas feirinhas dos bairros

Por Flaécia Gomes

Famosa por ser considerada a capital mais fria do Brasil, tanto pelo clima quanto pelo comportamento de seus moradores, Curitiba pode ficar conhecida também pelas feiras livres, que fazem sucesso entre os moradores da cidade. As feirinhas, como são chamadas pela população, já fazem parte da tradição curitibana, sendo ponto de encontro entre os moradores, principalmente aquelas que acontecem à noite.

Segundo Cícero Siqueira de Souza, gerente municipal das feiras e sacolões de Curitiba, órgão ligado a Secretaria Municipal de Abastecimento, que coordena as feiras, elas ocorrem em ruas e praças da capital. As noturnas acontecem em nove bairros da cidade, todas as semanas, de terça a sexta-feira, das 17 às 22 horas.

 Nas feirinhas, o consumidor encontra hortifrutigranjeiros, frios, massas e alimentos produzidos artesanalmente, além de comidas típicas regionais e internacionais, como por exemplo, comidas baianas, mineiras, japonesas, francesas, polonesas, ucraniana, belgas, italianas, portuguesas e chilenas.

Segundo Souza, as feiras de Curitiba foram iniciadas principalmente pelos imigrantes italianos, mas também alemães e poloneses, em meados do século XIX. Na época, os chacareiros saiam dos bairros para o centro, em suas carroças, para comercializar hortifrutigranjeiros.

 

Ao longo da semana, a capital abriga 80 pontos de feiras livres fixas, que se dividem entre as diurnas (com hortifrutigranjeiros), as noturnas (mistas, com hortifrutigranjeiros e comidas típicas), gastronômicas (com comidas típicas) e as or­­­gânicas (com produtos orgânicos). Além disso, em datas comemorativas são realizadas feiras especiais, com artigos específicos das festas, como as de páscoa, dia das mães, natal, entre outras. Ainda, nestas feiras especiais, as barracas de comidas típicas sempre marcam presença.

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Famílias na feirinha do Bacacheri em uma das noites mais frias de Curitiba

Identidade Cultural

Souza diz que as feirinhas, sobretudo as noturnas, têm características diferenciais e podem ser consideradas uma atividade cultural da cidade. O principal atrativo delas é o tratamento pessoal e igualitário que os clientes recebem por parte dos feirantes. “As pessoas vão até as feiras porque se sentem mais humanizadas. Lá cada um é tratado como cidadão normal, independente da posição social, ou profissão que exercem. Os clientes se deslocam nas bancas como se fossem da família dos expositores, pois têm esta liberdade”, afirma o gerente.

 

Frequentar as feirinhas noturnas realmente se tornou um hábito cultural para muitos, mesmo nos dias mais frios. É o caso do guia turístico internacional e ex-morador do Rio de Janeiro, Clovis Bittar Neto. Ele conta que há 12 anos veio morar em Curitiba e, desde então, nunca deixou de ir à feirinha do bairro do Bacacheri, que antes se realizava no bairro do Cabral. “No Rio existem feiras do dia a dia, mas não as noturnas como aqui, aonde vamos com a família. Desde que cheguei aqui, as feirinhas viraram um momento de lazer e um ponto de encontro, mesmo quando está muito frio”, relata o carioca.

 

A mulher do guia turístico, Elisabeth Bittar, disse que faça chuva ou sol o marido vai para a feirinha. Clovis Bittar e sua família têm uma história bem interessante relacionada à feira. Segundo ele, os feirantes, principalmente, Augusto que é verdureiro, e Patrick, da barraca de espetinho, acompanharam o crescimento da família. O feirante Augusto lembra que acompanhou a gravidez de Beth e que a filha do casal, Lara, falou a primeira palavra para ele. “Eu a peguei no colo e disse: olha a lua, Lara. Em seguida ela falou: lua”. A informação foi confirmada pelos pais da menina.

O jornalista Guilherme Fiuza frequenta a feirinha de Santa Felicidade desde criança, e uma de suas principais prioridades no local, é comer o “sagrado” pastel da semana. Para ele, a feirinha é um ambiente de entretenimento familiar, que traz boas lembranças da época da adolescência, quando o local era o ponto de encontro da garotada. “Hoje ainda encontro amigos aqui, mas não todas as semanas. Venho à feira com a família, principalmente por causa do Lorenzo, meu sobrinho, que não abre mão de comer milho cozido”, comenta o jornalista.

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Clovis Bittar com o feirante Augusto, o primeiro a ouvir uma palavra de Lara.

Serviço:


Feiras Livres de Curitiba – Noturnas


Horário de Funcionamento: 

De terça a sexta-feira: das 17 às 22 horas

Sábados: das 7 às 12 horas

 

Locais: 

Terça-feira: Batel, Juvevê e Santa Felicidade,

Quarta-feira: Hugo Lang, Bacacheri e Alto da Glória

Quinta-feira: Água Verde e São Francisco

Sexta-feira: Champagnat

 

Entrada gratuita

Para mais informações acesse: http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/feiras-programa-feiras-livres-noturnas-secretaria-municipal-do-abastecimento/244

A negra feminista das pequenas revoluções

Lucas Izaltino Panek

Mulher, negra, feminista. A jovem curitibana Emanuella Barth, 19, aluna do curso de Administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR), teve uma virada na sua vida ideológica ao ser selecionada para participar do Instituto Bom Aluno do Brasil (IBAB). O programa atende crianças que não têm condições financeiras para arcar com um ensino privado. O processo seletivo é mais concorrido que o vestibular de Medicina: mais de mil inscritos passam por etapas como provas, dinâmicas em grupo, visitas domiciliares, entrevistas e análise de desempenho escolar. Ao final, apenas 56 são selecionados. Essa mudança na vida da estudante lhe trouxe a oportunidade de morar na Alemanha, por um ano, e ter contato com as filosofias feministas. Ela revelou ao Leite Quente que o seu apego pela cidade de Curitiba faz com que tenha vontade de vê-la se transformar. Crente nas pequenas revoluções, Emanuella faz dos seus limitados trabalhos voluntários uma maneira de mudar a cidade e transmitir seu conhecimento humano contra as injustiças raciais e de gênero. Confira a entrevista:

Quem é Emanuella Barth em Curitiba?

Estudante de Administração da UFPR, aluna do Instituto Bom Aluno do Brasil durante muitos anos. Amante da feira do Largo da Ordem e do quentão da Osório. Revoltada com a falta de metrô numa cidade desse tamanho e a pretensão de dizer que Curitiba é um pedacinho da Europa no Brasil, nós precisamos entender que somos brasileiros.

Emanuella Barth tenta transmitir seu conhecimento em seus trabalhos voluntários.

Emanuella Barth tenta transmitir seu conhecimento em seus trabalhos voluntários.

O que é o Programa Bom Aluno? Como ele modificou sua vida?

O Bom Aluno é uma ONG fundada pelos donos da BS Colway Pneus com o objetivo de mudar o Brasil por meio da educação. Eles fazem isso dando oportunidade para alunos sem condições financeiras de pagar uma educação privada. Hoje em dia, os alunos do programa são mantidos por outras empresas, bem como pelas escolas parceiras. A partir dele tive acesso a uma educação de qualidade e à oportunidade de fazer um intercâmbio no exterior. Grande parte da minha formação humana deve-se a eles.

Fez intercâmbio para onde?

Ratingen, perto de Düsseldorf, na Alemanha, por uma bolsa do Rotary Club International. Mas acabei viajando por toda a Europa.

Essa vivência em outro ambiente influenciou sua visão sobre Curitiba? Você costuma fazer alguma comparação entre as duas cidades?

Ao mesmo tempo que critico essa atitude, é impossíivel não fazer comparações. A questão da mobilidade urbana; o ensino público que funciona lá, apesar das dificuldades; o poder de compra da população; menor desigualdade social que permite acesso a uma série de coisas e quebra outras desigualdades; a questão de infraestrutura, são todos pontos que em Curitiba, uma “cidade modelo”, deveriam ser mais evoluídos.

O que a Emanuella trouxe de Ratingen para Curitiba?

Maior capacidade de observação, mais paciência para que as coisas se concretizem e, ao mesmo tempo, impaciência ao ver que as coisas nunca começam e ficam só na promessa; o respeito pelo que eu não conheço; a percepção de ser mulher no mundo; uma vontade de continuar descobrindo novos lugares; a quebra de preconceitos; amizades e carinho.

Qual a sua percepção de ser mulher no mundo?

Ao mesmo tempo que temos obras de arte, entre outras coisas, que exaltam a feminilidade, ser mulher , ainda é um desafio. Apesar de todas as conquistas, ser mulher ainda é ter que provar algo.

Qual o seu desafio? O que você tem que provar enquanto mulher?

Existem as diferenças sim, mas tenho que provar que elas vêm pra somar e não para diminuir. Eu sou, sim, capaz e não seria menos por uma questão de gênero. Ser mulher é legal, bonito, mas dá medo. Minha filosofia de vida é o respeito.

Essa é a sua visão como feminista também?

Ser feminista é algo que está em mim. E, como isso se configura na minha luta, parece se reproduzir nas outras mulheres também. Além disso, no Brasil ainda parece que, como mulher, você tem que estar em um relacionamento sério, você tem que ser “escolhida” por alguém de bom caráter, você tem que ser feminina. Como feminista, o maior desafio é ser uma mulher aquém dos estereótipos. Eu mostraria meus seios numa Marcha das Vadias em forma de resposta a toda a violência que sofremos.

O Movimento Feminista de Curitiba foi um dos primeiros a ter um grupo voltado para as mulheres negras. Você é uma mulher negra. Sente distinções por conta da cor, também?

Essa é uma questão que eu demorei a ter que enfrentar. Apenas na adolescência , aos 15,16 anos, pela primeira vez me dei conta do racismo que existe. Não lembro de ser diretamente discriminada por isso mas já ouvi comentários maldosos, não sobre mim, mas que me atingiram por ter uma mãe negra, uma família negra. Já vi minha mãe sofrendo preconceito racial, e diante da reação dela, me toquei que aquilo já deveria ter acontecido tantas outras vezes. Eu não sinto diferença por ser mulata, negra, mas pelo que isso representa para os outros. Sempre tive que conviver com o padrão do cabelo liso e até já quis ter cabelo liso, porém a questão da cor da pele não havia sido nada que me preocupasse ou chamasse atenção. Mas aí você percebe o quanto da história dos negros trazidos ao Brasil é negligenciada, de como parece que você tem que provar que é “negro, mas gente boa e decente”. Passei a entender, inclusive, a história da minha família com outros olhos. Recomendo esse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=ZUtLR1ZWtEY

Você faz algo para mudar isso?

Eu acho que faço isso no meu posicionamento do dia a dia. Não me importa a raça, a cor, esse tipo de pergunta eu deixo em branco, mas se tiver que responder eu sou mulata. Como eu me sinto? Mais negra pela minha história de vida do que pela cor da minha pele. Não participo de nenhum movimento de consciência negra, ou algo do tipo. Entretanto, da mesma forma que sei dos possíveis preconceitos que talvez estejam ao meu redor e eu não me dê conta, tento me pôr no lugar de outros, pensando no preconceito que eu posso sofrer. Muito do que a gente faz, de como a gente vive é definido por alguns padrões impostos historicamente. A opressão contra a mulher e contra a negra foi construído historicamente sem levar em conta as faces da vida dessas pessoas. E daí, quando uma mulher vai às ruas gritar pelos seus direitos humanos, ela é vandalizada moralmente por quem a assiste.

Você já se envolveu em trabalhos voluntários. Conte um pouco sobre a experiência.

Foram experiências válidas na minha tentativa de diminuir desigualdades. Mas foi, principalmente, uma oportunidade de autoconhecimento dos meus limites, o que eu ainda precisava para crescer. Além de coisas pontuais, como visitas a casas-lares e asilos, fiz voluntariado na Rede Esperança de Piraquara – ONG italiana que trabalha com pessoas da maior área de evasão da América Latina, junto com outros dois amigos. Cuidávamos da biblioteca. A ideia era aproximar as crianças do mundo da leitura e, por tabela, do conhecimento sobre a nossa realidade humana.

O que você pretende fazer para mudar Curitiba?

Estudar, me preparar. Acredito em pequenas revoluções com as pessoas com quem convivemos. Quero me envolver mais em questões sociais, programas de defesa às mulheres e aos negros. Quero, enfim, me encontrar.

Unilivre continua a integrar educação ao meio ambiente

Organização, herança da chamada “Capital Ecológica!” continua a desenvolver trabalhos na comunidade curitibana e a encantar a população com seu visual.

Por Ana Carolina Maoski

  A Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre) completou 21 anos em 2013, no mesma dia em que se comemora o dia Mundial do Meio Ambiente. O espaço localizado no bairro Pilarzinho, em Curitiba foi inaugurado em junho de 1992 — na ocasião esteve presente o oceanógrafo e ecologista francês Jaqcues Cousteau, que demonstrou sua admiração pela iniciativa, única na sua visão. “Nunca vi uma iniciativa semelhante a esta de Curitiba, um exemplo que deve ser copiado por todo mundo”, declarou.

Se engana quem pensa ser a instituição uma universidade formal:  a Unilivre é uma organização não governamental (ONG), sem fins lucrativos, que desenvolve trabalhos de educação ambiental. Como está registrada no Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip),  ela pode receber recursos da prefeitura e de outras instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais.

Em 2010 houve uma tentativa de transformar a Unilivre em um departamento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Na época circularam boatos de que a instituição estaria em crise. ¨Pessoalmente, acho que a Unilivre deve continuar como  está. Nós estamos envolvidos em programas institucionais,  focados no trabalho com sustentabilidade urbana e cumprindo nosso objetivo de educação ambiental do cidadão. Muito da questão da possível crise da Unilivre vêm da percepção do homem público sobre os programas de educação ambiental, mas ela ainda é uma instituição que é referência, ela ainda tem uma sistemática única de trabalho com a educação ambiental.¨, explica o superintendente da instituição, Ramiro Wahrhaftig.

Como qualquer outra ONG, a Unilivre precisa do apoio de parceiros para se manter funcionando, é o que explica a funcionária Ana Luiza Bonetto.  ¨Como todas as ONGs, não dispomos de muitos  recursos,  por este motivo  sempre buscamos parcerias para realizar nossas ações. A Prefeitura de Curitiba cede o espaço ocupado pela Unilivre, no Bosque Zaninelli, porém atualmente nenhum dos nossos projetos tem parceria com a prefeitura.¨, afirma.

A Unilivre foi a primeira instituição brasileira a levar a vários segmentos da sociedade o ensino, a pesquisa e a educação ambiental. A organização oferta cursos, seminários, conferências e exposições; além de executar projetos e atividades de educação ambiental que visam incluir a população na discussão sobre o meio ambiente.

Há 22 anos a Unilivre encanta pela beleza natural e é referência na educação ambiental. - Foto: Ippuc

Há 22 anos a Unilivre encanta pela beleza natural e é referência na educação ambiental. – Foto: Ippuc

Projetos

Um dos projetos em funcionamento no momento é o Meu BioBairro, que atua em quatro bairros de Curitiba: Tatuquara; Campo do Santana; Caximba e Pinheirinho. É um Projeto de Educação Ambiental que desenvolve atividades socioeducativas ligadas a temas de sustentabilidade urbana, como: resíduos sólidos, conservação da água, arborização viária, mudanças climáticas e mobilidade urbana.

¨O Projeto prevê a participação ativa e efetiva dos moradores por meio de atividades de educação ambiental e mobilização na comunidade escolar. Por meio das ações espera-se incentivar professores, estudantes e a comunidade em geral a serem BioLíderes.¨, explica Ana Bonetto.

Arquitetura e turismo.

Considerada a Capital Ecológica do Brasil,  Curitiba possui muitos espaços que chamam a atenção de turistas que gostam de estar em contato com a natureza. O espaço onde está a sede da Unilivre é um exemplo de ponto turístico que atrai muitos visitantes pela sua beleza. O local possui 37 mil m² e um lago, rodeado pelo que era, antigamente,  uma pedreira explorada pela família Zaninelli, desativada em 1983.

A turista Sarina Lenz, isitou a Unilivre no começo deste ano. Ela considera a iniciativa interessante e ressalta a beleza do local. ¨A primeira vez que entrei na Unilivre fiquei encantada. O lugar é lindo e a natureza exuberante. A arquitetura do prédio respeita e se integra ao meio ambiente.¨, comenta.

Além deste espaço, a construção que abriga a universidade chama atenção por se integrar ao ambiente e se enquadra como uma bioconstrução — aquela em que a preocupação ecológica está presente desde sua concepção até sua ocupação.  O projeto é do arquiteto Domingos Bongestabs, que também assina o projeto da Ópera de Arame, outro ponto turístico de Curitiba.  Foi construída com troncos de eucalipto (vigas e pilares) e complementada com imbuia, cambará, cedro e vidro. Uma rampa em espiral dá acesso a salas de aula, escritório e um mirante de 25m.


Serviço

Rua Victor Benato, 210

Bairro: Pilarzinho. Curitiba-PR/Brasil.

Horários: das 8:00 às 19:00

Fone: (41)3254-5548

Juventude empreendedora é o futuro do país

Jovem ultrapassa a burocracia e a falta de experiência para se tornar um empreendedor antes dos 25 anos

Eleonora Mendonça

“Desde pequenos os jovens podem desenvolver suas habilidades na escola, seja vendendo doces, trocando figurinhas”, segundo Carolina Chueire da JA-PR Foto: Divulgação

“Desde pequenos os jovens podem desenvolver suas habilidades na escola, seja vendendo doces, trocando figurinhas”, segundo Carolina Chueire da JA-PR
Foto: Divulgação

Em 2010, a faixa etária de 18 a 24 anos comprovou a ampliação da participação dos jovens no universo empreendedor brasileiro. A informação é do Departamento Nacional de Registro Comercial (DNRC), que é ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
A gestora de projetos da Junior Achievement Paraná (organização de educação prática em negócios, sem fins lucrativos), Carolina Chueire, destaca a importância desse jovem para o mundo dos negócios e para a sociedade como um todo: “A sociedade precisa de pessoas que saibam ser líderes, resolver problemas, lidar com dinheiro, entender o mundo dos negócios, inovar, criar e arriscar”, comenta.
De acordo com ela, é necessário o jovem conhecer o mercado de trabalho antes mesmo de estar inserido nele, para entender seu funcionamento e, a partir daí, saber construir o próprio caminho. “Ele é quem está arquitetando sua vida”, saliente Chueire, que acredita que ser empreendedor não é apenas possuir um empreendimento seu. “Não necessariamente o empreendedor é aquele que é dono do seu próprio negócio, mas aquele que aonde estiver, seja como empresário ou funcionário, se destaca por fazer algo diferente e melhor que os demais”, diz.
Comenta, ainda, que empreender é uma descoberta para o jovem, conquistada a cada oportunidade que tiver. “Desde pequenos os jovens podem desenvolver suas habilidades, seja vendendo doces, trocando figurinhas, fazendo um produto, criando uma solução para algum problema”, finaliza ela.
Para o empresário Edson José Alves Júlio, 52, dono de uma fábrica de calçados de segurança, esse jovem empreendedor é o futuro do país. Diz que a importância desse jovem não está apenas no mercado de trabalho, mas em toda a sociedade. Ele considera importante que, já na faculdade, todos os estudantes façam uma matéria de empreendedorismo, para se tornar um gerador de empregos. Júlio comenta que o sistema está formando empregados, ao invés de instigar-lhes a gerenciar seu próprio negócio.
Destaca que as pessoas pensam em abrir uma empresa depois que se aposentam, perdendo vários anos de investimento no possível empreendimento e reduzindo bastante a vida útil desse negócio. “Esse empreendedor deve começar ainda novo, para ter tempo de investir e angariar experiências diversas com o negócio, e não apenas como uma solução passageira para depois da aposentadoria”, diz.

DNA empreendedor
Edson José Alves Júlio Filho, 24, é filho de empresário e já possui seu próprio negócio. Formou-se com 22 anos em Engenharia Civil e, um ano depois, abriu uma loja de materiais de construção. Considera-se um empreendedor e não esconde que essa característica está em seu DNA. “É preciso de uma ideia, de preparação intelectual e de capital de giro”, afirma. A partir daí, e com o incentivo do pai, ele tem hoje um empreendimento de sucesso e está sempre atualizando e ampliando seu conhecimento. Está fazendo um curso de Contabilidade e já realizou outros de Marketing e Liderança.

Começando Cedo

Caroline Kurovski vende tortinhas de brigadeiro e beijinho que sua mãe faz Foto: Caroline Kurovski

Caroline Kurovski vende tortinhas de brigadeiro e beijinho que sua mãe faz
Foto: Caroline Kurovski

Caroline Kurovski, 19, estudante de Relações Públicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) avistou na faculdade um bom local para vender os doces que sua mãe faz. “Percebi que o dono da cantina tem, muitas vezes, deixado de abri-la, então vi o pessoal da faculdade como um público em potencial para realizar as vendas durante a semana. Além disso, é uma forma de divulgar os produtos da empresa”, diz.
A estudante demonstrou iniciativa quando propôs as vendas na sua faculdade e também um plano de comunicação para a empresa, com os conhecimentos que adquire no curso. Comenta, ainda, o desafio que tem pela frente: “É preciso coragem e esforço para esse tipo de coisa e estou apenas começando, mas as primeiras vendas foram muito boas”.
Quanto ao objetivo, comenta que quer ajudar a mãe e aumentar a renda da família. “Não sei se continuarei a vender os produtos dessa maneira, mas certamente utilizarei os métodos de trabalho de relações públicas para melhorar cada vez mais a comunicação e aumentar a abrangência de nossa empresa”, completa.

Famosos pastéis de Belém

Barbara Monteiro e seus famosos pastéis de Belém Foto: Barbara Monteiro

Barbara Monteiro e seus famosos pastéis de Belém
Foto: Barbara Monteiro

A estudante de Publicidade e Propaganda da UFPR Barbara Monteiro, 20, também viu nos universitários um público alvo para as vendas dos seus cupcakes e pastéis de Belém. O que ela não imaginava era que os doces iam fazer sucesso até com os professores. O professor de comunicação Mário Messagi Júnior comenta: “Esses dias, comprei dez pastéis de Belém e gostei sim”. E a também professora de comunicação Kelly Prudencio arremata: “Sou cliente fidelíssima. Adoro”.
Barbara conta que via, muitas vezes, os colegas indo comer na padaria ou sem ter onde lanchar, já que a cantina costumava não abrir. “Então, pensei em fazer bolo para vender, mas tive vergonha. Quem me incentivou foi meu noivo, que fez gastronomia e faz pastel de Belém por encomenda”, comenta. A estudante afirma que não esperava tanto sucesso: “Comecei levando poucos doces. Agora acaba bem rápido e as pessoas ainda querem mais. Pensei em aumentar a produção e aprimorar a divulgação da marca. Fiz cartões e passei a entregá-los junto com os doces”. E declara que fica muito feliz pelas pessoas estarem gostando.
A jovem empreendedora conta ainda que adora cozinhar e que, para o futuro, quer ter uma cozinha maior e continuar vendendo doces por encomenda. “Na verdade eu tenho as ideias e preciso de um empurrãozinho para começar e até mesmo continuar”, encerra.

Dicas 
Carolina Chueire salienta algumas características que o jovem precisa ter para se tornar um empreendedor: “Ele precisa ser criativo, ter iniciativa, inovar e sempre buscar algo novo para sua vida e carreira”. E o empresário Edson Júlio afirma que, para os jovens, as chances de tropeçar são maiores, pela falta de experiência e pelo longo caminho que têm a percorrer, contudo são eles capazes de mudar o país e gerar dezenas de empregos. Sujeitos da própria trilha, devem estar preparados e gostar do que fazem.
Não há regra clara ou passe de mágica. Mas é possível seguir algumas orientações que são unânimes no mundo dos negócios. Se cair, levante-se depressa. Deixe o orgulho de lado: se necessário, recorra à orientação de profissionais experientes. Não se contente com o mínimo: se é para assar vinte cupcakes, faça trinta. Arrisque e seja original, afinal a inovação e a coragem são fundamentais.

Bandas Independentes de Curitiba e região procuram alternativas de divulgação

Com um mercado musical acirrado, é por meio de festivais e da internet que bandas independentes de Curitiba e Região Metropolitana procuram divulgar seu trabalho.

Karina Fernandes

Ter contatos, paciência e saber se articular é tão importante quanto fazer boa música. Essa é a realidade do cenário musical para muitas bandas, em especial, as chamadas independentes.

: A banda Aira participou do festival URRA!, uma oportunidade para mostrar seu trabalho ao público Crédito: Everson Santos

: A banda Aira participou do festival URRA!, uma oportunidade para mostrar seu trabalho ao público
Crédito: Everson Santos

Segundo Jhonny Castro, um dos organizadores do festival URRA! (União Resistência do Rock de Araucária), entrar no mercado da música é uma escalada muito complicada paras as bandas novas, pois a indústria cultural é um grande funil que não da espaço para o que não for garantido. Isso ocorre até mesmo em bares e casas de show, que dificilmente contratam bandas que não fazem covers de bandas famosas. Assim, não há espaço para mostrar o trabalho autoral, as músicas próprias. E isso é reflexo do próprio público que, muitas vezes, prefere ver cover de uma banda consagrada do que conhecer uma banda nova local. O URRA! surgiu em 2003 para divulgar o trabalho dos músicos de Araucária, município vizinho de Curitiba.

Para Adriane Perin, jornalista e organizadora de festivais musicais em Curitiba como o Rock de inverno e o Noites de inverno, o mercado da música não sabe para onde vai. “Espero que consigamos chegar próximo de um mercado alternativo mais forte que permita um meio termo para bandas que não desejam estar no Faustão, mas tem potencial para ter seu circuito”, afirma. Ainda há bandas que esperam serem descobertas, porém, hoje essa descoberta pode vir também através do público, via internet.

A internet veio e facilitou a divulgação do trabalho das bandas. Antigamente, era necessário gravar uma demo (um CD ou faixa musical demonstrativa) e mandar para uma gravadora, na esperança de que a música acabasse sendo veiculada em uma rádio. Hoje, existem as plataformas de divulgação de bandas na internet, redes sociais exclusivas para isso. Assim, é possível divulgar o trabalho autoral para um público que está a quilômetros de distância. Houve também o tempo da divulgação de shows, eventos boca a boca. Já hoje em dia, cria-se um evento no Facebook com a data, e logo já aparecem mil pessoas confirmadas. “Claro que a parte física ainda é mais importante, o show, o contato com o público, mas o online tem sido um grande aliado”, revela Jhonny Castro. Adriane Perin afirma também que com as tecnologias, a gravação e a divulgação da música mudou totalmente, “mas isso não vai resultar em nada se ficarem gastando o tempo com disputa de espaço em público. Tem que saber usar e fazer valer”, avalia.

Os festivais

Festivais como o URRA!, buscam fomentar a criação autoral das bandas independentes,  fazendo com que as bandas assumam o fazer música própria, “Mesmo sendo um caminho mais difícil, é com certeza muito mais honesto com as suas raízes, e mesmo com o seu público”, afirmam os organizadores do evento.

Os festivais, muitas vezes, acabam sendo a única porta de entrada para as bandas que não sabem por onde começar a correr atrás de shows e divulgação do seu trabalho. “Ao longo dos anos, já vimos dezenas de bandas surgirem dentro do URRA!, a partir do público que ia assistir a um evento, e acabava se motivando a criar também a sua própria banda. Isso é muito gratificante no sentido de fomento à cultura local”, afirmam os organizadores

Os festivais concentram as atenções, pois o público vai a um festival ciente de que verá bandas diferentes entre si e estão abertos também para conhecer o que ainda não conhecem.  Ao reunir vários grupos em um mesmo evento, um festival pode atrair atenção da mídia, do público, de patrocinadores e de outras bandas. “Acho imprescindível termos festivais, é um dos grandes problemas de Curitiba hoje, a falta deles. As bandas proliferaram e continuam tendo que se virarem sozinhas praticamente”, opina a produtora de eventos musicais Adriane Perin.

As Bandas          

A grande vantagem, vista pelos músicos, em ser uma banda independente é a liberdade no fazer a sua música. A banda curitibana Aira, por exemplo, participa de vários festivais, e em muitos deles foi premiada com horas de gravações em estúdio. Com dois anos de existência, a banda não procura auxílio de gravadoras: “Somos apenas uma banda que grava as coisas em casa e tocamos para os amigos, então a única “publicidade” é de boca a boca”, afirmam.

Como é independente, os integrantes da Aira produzem melodias como querem e como gostam, com letras ácidas. Os integrantes vêem isso como a forma mais pura da arte. Com o auxílio da tecnologia, a banda consegue gravar músicas com uma boa qualidade, e então as divulgam em seu site (www.aira.net.br).

Já a banda Black Rain busca o auxílio de um empresário ou uma gravadora para ir mais longe. “Não estamos mais nos anos 70 ou 80 que bastava ser bom ou interessante pra fazer sucesso. Hoje, você tem que ser excelente ou ter essa sorte a seu favor, é um mundo de oportunidades agora”, afirma Raphael Peçanha, um dos integrantes da banda. Sem esse apoio, a Black Rain sofre dificuldades com a produção de boa qualidade e a divulgação em maior escala. Porém, com a internet a divulgação do trabalho da banda foi facilitada. Peçanha afirma que a banda procura com sua música transmitir todos os seus sentimentos: “Queremos que as pessoas fechem os olhos e sintam uma harmonia entre os acordes”, afirma. Hoje a banda está em uma pausa forçada pelo envolvimento de seus integrantes nos estudos.

Ciência sem Fronteiras permite desenvolver talentos pelo mundo

Com o Programa Ciência sem Fronteiras estudantes brasileiros têm a oportunidade de expandir suas experiências em renomadas universidades pelo mundo.

 Karina Fernandes

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O Ciência sem Fronteiras é um programa em que o governo federal brasileiro procura, por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional, promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira. O projeto está disponível para que alunos de graduação e pós-graduação possam fazer estágio no exterior com a pretensão de manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação. É prevista a utilização de mais de cem mil bolsas em quatro anos.

O objetivo essencial do Ciência sem Fronteiras é investir na formação de pessoas qualificadas  para o avanço da sociedade do conhecimento, aumentando a presença de pesquisadores e estudantes brasileiros em instituições no exterior, além de atrair jovens talentos científicos e investigadores qualificados para trabalhar no Brasil. As instituições de destino, segundo a organização do Programa, serão prioritariamente as mais bem conceituadas para cada grande área do conhecimento, de acordo com os principais rankings internacionais.

Lucas Menocin Kracker, 21 anos, estudante de Engenharia Mecânica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) vai para a Alemanha no meio de agosto deste ano. Os órgãos brasileiros que estão intermediando a bolsa de um ano no exterior são o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior). Para ser aceito no programa, Lucas Kracker passou por um processo seletivo de três etapas. A primeira, foi a aprovação em uma universidade brasileira, seguindo todos os critérios exigidos; a segunda, a aprovação da Capes, também pelos critérios do órgão (fluência na língua, histórico escolar, participação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), realização de projeto de iniciação científica); e a última, a aprovação da candidatura pela universidade de destino.

Segundo o jovem estudante, o bolsista deve assinar um termo de compromisso com o órgão brasileiro, que, em resumo, diz que o estudante não pode portar substâncias ilícitas, que deve respeitar regras institucionais impostas e agir de acordo. No final da bolsa, as responsabilidades não acabam, pois o intercambista ao retornar no Brasil, deve escrever uma breve carta sobre o aprendizado e o que este pode trazer de útil ao país.

Para Kracker, descobrir novas tecnologias, aprender novas línguas, culturas e métodos serão diferenciais no futuro profissional e pessoal de quem quer participar do Programa. “O Ciência sem Fronteiras deve ser levado a sério pelo bolsista, pois só poderá aproveitar no futuro uma oportunidade como esta quem for comprometido e focado no que deve ser feito”, analisa.

As mais diversas áreas

As áreas contempladas pelo Programa Ciências Sem Fronteiras são inúmeras: Engenharias e demais áreas tecnológicas, Ciências Exatas e da Terra, Biologia, Ciências Biomédicas e da Saúde, Computação, Tecnologias da Informação, Tecnologia Aeroespacial, Fármacos, Produção Agrícola Sustentável, Petróleo, Gás, Carvão mineral, Energias Renováveis, Tecnologia Mineral, Biotecnologia, Nanotecnologias e Novos Materiais, Tecnologias de Prevenção e Mitigação de Desastres Naturais, Biodiversidade e Bioprospecção, Ciência do Mar, Indústria Criativa , Novas Tecnologias de Engenharia Construtiva e Formação de Tecnólogos.

Mas, há ainda outros requisitos para participar do programa. O candidato deve ter experiência ou demonstrar interesse em programas de pesquisa, apresentar um projeto na área acadêmica que deverá desenvolvido em até três anos e se comprometer a desenvolver tal projeto nas instituições do país que mora. Além de tudo isso, o estudante deve se destacar como aluno.

Segundo a assessora de Relações Internacionais da Universidade Positivo, de Curitiba, Fernanda Ogasawara, o ideal é que o aluno participe do Programa na metade da faculdade, em seu segundo ou terceiro ano.  Quanto às vantagens em se fazer o programa, a assessora afirma que, para o aluno, são os ganhos na questão cultural e profissional e, para Universidade, utilizar as experiências desse aluno. “É bom ter outro ponto de vista. É aproveitada a experiência do aluno não somente nas aulas, com os professores, mas também em outros setores da Universidade.”

Os benefícios oferecidos pela bolsa são o recebimento de uma mensalidade, seguro de saúde, auxílio de material didático, taxas escolares e/ou taxa de bancada (se aplicável) e auxílio instalação e deslocamento, estes últimos somente para residentes no Brasil.

Na prática

Palloma Carvalho, 20 anos, vai para os Estados Unidos por meio do Ciência sem Fronteiras. A estudante de Engenharia Química da UTFPR teve um longo processo seletivo. Inicialmente, sua vaga seria para Portugal, país para o qual não é necessário fazer exame de proficiência da língua, o que leva a  uma grande quantidade de inscritos para esse destino. Com a sobra de vagas para todos os outros países, o Governo então permite que alguns estudantes escolham outro destino, além de oferecer seis meses de inglês no estrangeiro.

A estudante paranaense reconhece suas responsabilidades como intercambista, pois será uma embaixadora do Brasil em seu país de destino, tendo que seguir suas leis e representar o país. À espera da definição de sua data de ida, Palloma vive expectativas pessoais e profissionais. No profissional, acredita no incremento em seu currículo pelo aperfeiçoamento científico e pela fluência em uma segunda língua, e na vida pessoal, aposta na socialização. “Minhas expectativas são imensas — a diversidade cultural com certeza será impressionante e tenho muita vontade de conhecer gostos, modos de se vestir e comportamentos diferentes. Lá, além dos americanos, conhecerei outros intercambistas do mundo inteiro”, afirma, Animada.

Inscrição

Para se inscrever, o candidato deverá acompanhar pelo site do Programa (http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/home) quais as chamadas abertas. Cada uma destas chamadas possui características específicas, sobretudo em relação ao cronograma, que apresenta datas diferentes para atividades referentes ao processo de inscrição, seleção e pós-seleção.

LABmoda Concept volta a trazer visibilidade para criação local

Um balanço do evento, que aconteceu no final de junho, mostra o retorno de maior visibilidade à identidade cultural de criadores locais, que havia diminuído desde o final do Crystal Fashion em 2010.

Maíra Roesler

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Apresentações culturais foram destaque na quinta edição do LABmoda. Fotos: Maíra Roesler

A 5ª edição da Semana de Moda de Curitiba, o LABmoda, aconteceu no final de junho em edição conceito, o LABmoda Concept. O foco dessa edição foi a valorização dos criadores locais como incentivo à criatividade e exposição de designers, expositores e artistas. Segundo o diretor criativo do LABmoda, Júnior Gabardo, essa edição veio para que o público conheça o rosto de quem está por trás da identidade de criação da moda curitibana. O evento teve lugar no Galpão Thá Cultural, no centro histórico de Curitiba e contou com mais de duas mil pessoas entre visitantes e produtores. Foram mais de dez horas de atrações multiculturais incluindo 12 desfiles de inverno de estilistas consagrados e estudantes de moda, apresentações de dez bandas e DJs e grupos de dança. O espaço contou também com uma feira com 14 marcas de roupas, joias e decoração.
Visibilidade a pequenos criadores
O desfile do Atelier Polyana Rosa mostrou sua coleção conceito Máfia Italiana na passarela do LABmoda. O desfile contou com a colaboração do estilista Maicon Machado e da produtora de moda Melise Seabra e trouxe a alfaiataria clássica misturada com elementos do universo masculino – o que resultou em peças sensuais e modernas. Poliana Paula Montagna, a proprietária do atelier, conta que desde o fim do Crystal Fashion, em 2010, a cidade sente falta de eventos que contemplem a moda local. O LABmoda, segundo Poliana, traz um feedback positivo para os micro e pequenos produtores de moda: “A visibilidade que um evento como este dá para um pequeno e micro empresário da moda pode ser um divisor de águas, tanto para o reconhecimento quanto para a continuidade do nosso trabalho”, afirma. A proprietária do atelier vê também um progresso no mercado de moda na cidade, refletido principalmente na quantidade de novos cursos profissionalizantes oferecidos na área.

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A passarela de Polyana Rosa. Na última foto, as criadoras do desfile. Fotos: Maíra Roesler

Espaço para a música


A banda Expresso Vermelho trouxe seu rock psicodélico inspirado nos sons efervescentes dos anos 1960 e 1970 para o palco musical do evento. O trio já havia se apresentado na edição passada, mas para Renan Reuter, vocalista e guitarrista da banda, a experiência de tocar para um público diferenciado como o da moda é sempre surpreendente. “Tocar para um público diferenciado e dentro de um evento de moda não é uma circunstância casual para uma banda de rock, porém o público em geral foi bem receptivo quanto ao nosso show e com certeza a participação no evento contribuiu para mostrarmos nosso trabalho”, revela Renan. Para o vocalista, o LABmoda oferece um bom espaço de exposição para a música autoral curitibana.

Destaques dessa edição e próximos passos
Um dos destaques das passarelas do primeiro dia foi o desfile da marca Cocch, de Vinicius Cocchieri. O tradicional mix de referências italianas com um toque de Brasil da marca foi revelado em vestidos de festa exuberantes e luxuosos. Os tecidos finos e aplicações de pérolas e bordados encheram os olhos dos espectadores num desfile inspirado no universo das formandas. No segundo dia, as atenções foram para a estilista angolana Soraya da Piedade, que trouxe roupas bem femininas com silhuetas elegantes, direto da Angola Fashion Week. Na cartela de cores, o verde claro e o dourado coloriram os cortes e tecidos únicos da estilista.

Em sentido horário: desfile da marca Cocch, mostra das criações de estudantes de moda da Universidade Positivo, desfile conceitual de Renata Luciana e vestido da estilista Soraya da Piedade. Fotos: Maíra Roesler.

Em sentido horário: desfile da marca Cocch, mostra das criações de estudantes de moda da Universidade Positivo, desfile conceitual de Renata Luciana e vestido da estilista Soraya da Piedade. Fotos: Maíra Roesler.

O  LABmoda Concept foi a primeira de uma série de quatro realizações do  projeto previstas para 2013. O próximo evento será a edição completa, com quatro dias, na primeira semana de novembro.